Injetar células imunes nos ossos, músculos e pele aumenta a sua cicatrização

A injeção de células T reguladoras, que controlam as respostas imunológicas do corpo humano, diretamente em ossos, músculos e pele danificados aumenta significativamente a sua cicatrização.

Há uns meses, uma investigação levada a cabo por uma equipa da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, permitiu descobrir que as células T reguladoras (Treg), que controlam ativamente a resposta imune do corpo, podem ser usadas como uma espécie de “exército de socorristas para quase tudo”.

Agora, investigadores da Universidade de Osaka, no Japão, e da Universidade Monash, na Austrália, investigaram esse potencial como parte de um novo estudo e confirmaram que é verdade.

“Começamos a explorar a administração de Tregs para fins de medicina regenerativa porque impactam diretamente outros tipos de células imunes: os monócitos e macrófagos”, explicou Mikaël Martino, citado pelo New Atlas.

“Além disso, as células T reguladores podem secretar moléculas de sinalização que auxiliam na cicatrização dos tecidos. Apesar de seu forte potencial, poucos estudos exploraram o seu uso neste tipo de aplicações”, acrescentou.

Os monócitos são glóbulos brancos responsáveis por combater certas infeções e ajudar outros glóbulos brancos a remover células mortas ou danificadas. Os macrófagos, outro tipo de glóbulo branco do sistema imunológico, englobam e digerem (fagocitam) patógenos como micróbios, células cancerígenas, detritos celulares e substâncias estranhas.

A capacidade do corpo de fazer a transição de um estado pró-inflamatório para um anti-inflamatório é essencial para a cicatrização e restauração tecidual após uma lesão. As terapias de medicina regenerativa têm como missão capitalizar os principais atores do sistema imunológico neste processo.

Neste estudo, os cientistas administraram localmente um hidrogel de fibrina que continha Tregs no tecido lesionado de ratos para ver até que ponto os animais promoviam a cicatrização de tecidos em ossos, músculos e pele.

A equipa escolheu três modelos de lesão aguda: defeitos cranianos graves, perda do músculo esquelético e feridas cutâneas de espessura total.

“Comparados com os que receberam hidrogel de fibrina sem células T reguladoras, os animais que receberam Tregs apresentaram um maior volume ósseo e cobertura sobre as áreas cranianas lesionadas, maiores quantidades de tecido muscular e um grande tamanho de fibra muscular e fecho mais rápido da ferida“, salientou o investigador Shizuo Akira.

A equipa chegou à conclusão que as células adotaram um fenótipo específico da lesão após serem introduzidas na área danificada, apresentando níveis elevados de expressão em genes relacionados à modulação do sistema imunológico e cicatrização tecidual.

Outras experiências mostraram que as células T reguladoras fizeram com que monócitos e macrófagos em tecidos danificados mudassem para um estado anti-inflamatório, secretando moléculas de sinalização, como a interleucina-10 (IL-10).

“Curiosamente, observamos que, quando o gene que codifica a IL-10 é eliminado das Tregs, os efeitos pró-cura são perdidos”, disse Martino. “Esta descoberta revela o papel fundamental da IL-10 na forma como as células T reguladoras apoiam a reparação e a regeneração de tecidos.”

As descobertas do estudo demonstram o forte potencial do uso de Tregs como uma terapia de medicina regenerativa baseada em células após lesão tecidual.

O artigo científico com os resultados foi publicado a semana passada na revista Nature Communications. Martino é ainda co-autor de um outro artigo, publicado no início do mês na mesma revista, sobre o efeito das Tregs na reparação do tecido cardíaco após um enfarte do miocárdio.

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