Inflação “supercrítica” dá sinais de abrandamento

A invasão russa na Ucrânia provocou uma súbita dos preços derivado dos constrangimentos das cadeias de abastecimento e das quebras no fornecimento de energia.

Os vários indicadores usados para medir a inflação subjacente, uma das mais críticas por excluir os preços mais voláteis, denunciam uma descida no mês de janeiro, uma novidade que mostra que a subida dos preços está a abrandar. Esta medida de inflação alternativa tem sido adotada pela Reserva Federal norte-americana, pelo Banco Central Europeu, mas também pelo Banco de Portugal.

De acordo com o Negócios, o indicador tem sido cada vez mais usado tanto por economistas europeus como norte-americanos, na tentativa de perceberem quão generalizada está a inflação e quais as melhores decisões são mais adequadas.

No caso nacional, a medida mais próxima da inflação “supercrítica” cresceu 4,8% em janeiro em termos homólogos, um valor inferior ao mês anterior, de acordo com dados do Banco de Portugal. Trata-se da primeira vez em 17 meses que a subida dos preços menos voláteis (no qual se incluem setores como a energia, a habitação e o turismo) que abrandou.

Tal como descreve a mesma fonte, este indicador tinha vindo a subir desde setembro de 2021, altura em que atingiu o valor mínimo de 0,9%. Em janeiro de 2022 ultrapassou os 2%, enquanto que no último mês de dezembro atingiu o pico de 4,8%.

É um número inferior ao da inflação geral, que atingiu os 8,6% em janeiro, mas também inferior à inflação subjacente registada no mesmo mês (5,2%). O Negócios lembra que as duas taxas estão a abrandar o ritmo de crescimento há pelo menos três meses.

A invasão russa na Ucrânia provocou uma súbita dos preços derivado dos constrangimentos das cadeias de abastecimento e das quebras no fornecimento de energia. Do impacto direto nos alimentos e na energia, a subida de preços alastrou-se a outros bens. Vive-se agora uma fase de estabilização face às várias medidas que também foram implementadas.

“Retirar bens voláteis é uma maneira de vermos se a subida dos preços está generalizada. Estas medidas são uma sensação mais estável, mais consistente, do que é a verdadeira inflação”, explica Pedro Brinca, professor da Nova SBE. Como tal, lembra, se a a inflação “supercrítica” é mais baixa, e começou a descer, “há um conforto do que a inflação está a baixar”.

No entanto, nem todos os indicadores relacionados com a inflação têm tido uma evolução positiva. Por exemplo, através dos cálculos do Banco de Portugal relativos à evolução dos preços dos bens de acordo com a sua volatilidade, os menos voláteis subiram 4,9%, face aos 4,4% de dezembro.

Apesar de uma diferença inferior à inflação geral, tal indicador serve para Gonçalo Pina, professor da ESCP Berlim, reconhecer que “a inflação está bastante enraizada“.

ZAP //

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