O festival de cinema IndieLisboa, previsto para Maio, anunciou a retirada da programação de um filme do realizador e produtor Ico Costa depois de várias denúncias sobre o seu envolvimento em casos de violência doméstica, que o cineasta nega.
A direcção do IndieLisboa explica que tomou esta decisão na sequência da divulgação de uma carta aberta divulgada nesta segunda-feira, 21 de Abril, assinada por uma das alegadas vítimas do realizador.
Após essa carta, surgiram “novas denúncias”, aponta a direcção do IndieLisboa, o que levou à retirada do filme “Balane 3”, de Ico Costa, da competição oficial do festival.
Foi também retirado da programação um outro projecto por ele produzido, ainda não finalizado.
“A situação exige integridade e responsabilidade social, princípios que regem o nosso código de conduta”, aponta o comunicado do IndieLisboa, salientando que os responsáveis do festival são “profundamente sensíveis a denúncias de violência”.
“Temos consciência de que o contexto social e legal da violência de género é, muitas vezes, revitimizante na forma como trata quem denuncia“, escreve ainda a direcção do IndieLisboa.
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“Ico Costa é um agressor em série de mulheres”
Na carta aberta, divulgada através do perfil “Mais um casting” na rede social Instagram, a alegada vítima faz referência a agressões “verbais, físicas e psicológicas”, e fala ainda em “estratégias de intimidação, de chantagem emocional e de vitimização” por parte de Ico Costa.
Assinada “Joana Sousa Silva”, que se identifica como uma ilustradora e ex-estudante de cinema de 28 anos, esta alegada vítima refere que teve um relacionamento com Ico Costa durante seis meses há cerca de quatro anos.
“Fui traída, ofendida, chamada “p*ta” e “vaca”, agredida no rosto com bofetadas e na barriga com um soco, tive o cabelo puxado até ser arrancado“, relata ainda.
Na sua denúncia pública, a mulher diz ter conhecimento de “pelo menos [outras] seis vítimas” e nota que estas alegadas agressões aconteceram “ao longo de dez anos”.
“Ico Costa é um agressor em série de mulheres“, escreve a mesma alegada vítima, notando que tentou apresentar uma queixa-crime contra o realizador, mas sublinhando que a polícia só lhe “levantou dificuldades”, por “não apresentar sinais visíveis de agressão física”.
“Cultura de silêncio” para defender agressores
A mulher denuncia também o que define como uma “cultura de silêncio” que diz existir em Portugal, e que “parece programada para defender os agressores e calar as vítimas, sobretudo quando são mulheres”.
“Uma das vítimas chegou a fazer uma participação à polícia depois de ele a deixar com um olho negro, descalça na rua, a meio da noite“, relata ainda a mesma mulher, referindo que o realizado acabou por “a persuadir depois a retirar a queixa”.
A alegada vítima acusa ainda quem convida Ico Costa para Festivais de Cinema, notando que muitos têm “conhecimento do [seu] historial de abuso e violência”.
“A verdade é abafada e a narrativa enterrada, e ele chega ao ponto de sair desses festivais com prémios na mão”, lamenta ainda.
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Realizador Ico Costa nega acusações
Contactado pela agência Lusa, Ico Costa refuta todas as acusações.
“É uma denúncia falsa, feita por parte de uma pessoa que nunca conheci. Essa pessoa não existe”, reforça o realizador.
“Sou contra qualquer tipo de cancelamento e as vítimas têm que existir e neste momento não existem”, acrescenta ainda.
Questionado sobre a retirada dos filmes do IndieLisboa, Ico Costa diz que “é só mais um festival”, porque “Balane 3” já teve estreia noutros festivais.
“Balane 3”, que fez a estreia mundial este ano no Festival Internacional de Documentário de Copenhaga, é um documentário sobre a vida dos habitantes de um bairro em Inhambane, uma cidade no sul de Moçambique, país onde Ico Costa tem trabalhado com regularidade.
Nascido em Lisboa em 1983, Ico Costa é autor de filmes como “Alva” (2019) e “O Ouro e o Mundo” (2024), trabalhando ainda em produção através da Oublaum Filmes, que fundou em 2019.
ZAP // Lusa