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Incêndios. O pior dia do ano: a coragem que falta, os governantes que não vão ao terreno

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Pedro Sarmento Costa / LUSA

Trancoso, Covilhã, Vila Real ou Moimenta da Beira: populações assustadas, bombeiros não conseguem estar em todo o lado.

Este domingo foi um dia muito complicado, no que diz respeito a incêndios em Portugal. Em vários pontos do Norte e do Centro do país: Trancoso, Penacova, Vila Real, Moimenta da Beira, Ribeira de Pena ou Covilhã.

Foi mesmo o pior dia dos incêndios deste ano, resume o Correio da Manhã, que relata o desespero de muitos habitantes locais – a correr de um lado para o outro, com baldes, com mangueiras. E sempre a olhar em duas direcções: uma, para ver onde estavam as chamas; e outra, para ver se os bombeiros chegavam.

Trancoso foi das situações mais preocupantes: quatro povoações em risco, linha de fogo com diversas frentes activas. O incêndio lavra desde sábado e já provocou seis feridos ligeiros (três deles são bombeiros), segundo a Protecção Civil; outras 11 pessoas foram assistidas no local, por inalação de fumo.

Além de Trancoso, o outro maior incêndio activo no país, na manhã desta segunda-feira, é o da Covihã – embora se espere que fique controlado ainda hoje, segunda-feira.

O incêndio em Moimenta da Beira entrou em fase de resolução, segundo dados da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC).

A reativação do incêndio na Serra do Alvão entrou em fase de resolução às 04:24 desta madrugada depois de, no domingo, ter ameaçado várias aldeias, em Vila Real. Este fogo também interrompeu a etapa da Volta a Portugal em bicicleta, que mudou o percurso à última hora.

O que falta

As populações ficam desesperadas, queixam-se da falta de bombeiros – mas era impossível os bombeiros estarem em todo o lado, sublinha o Correio da Manhã.

E, de facto, “o esforço dos bombeiros, por muito heroico que seja, tem os seus limites. Isto não se trata aqui de reforçar o exército e acreditar que a batalha fica ganha”, avisa Helena Freitas, especialista em ecologia e biodiversidade.

Desde 2017 o investimento na prevenção de fogos aumentou, com diversas iniciativas. “Mas tornou-se evidente que não é suficiente. O quadro climático é muito exigente, estamos a assistir a sucessivas ondas de calor que fragilizam imenso a floresta”.

Na Antena 1, a investigadora da Universidade de Coimbra defende uma “reconversão ecológica da floresta“, o mais rapidamente possível. “Temos mesmo de ter uma nova política para a floresta. É preciso ter coragem”, reforça.

Helena Freitas acha que há uma “incapacidade real” dos meios de combate disponíveis em Portugal.

E lança uma crítica: “Não tenho visto governantes no terreno. Além dos senhores da Protecção Civil e dos bombeiros… Aqui trata-se de um momento de intervenção política absolutamente determinante”.

Risco máximo de incêndio

Cerca de 120 municípios do interior Norte e centro do país e da região do Algarve estão hoje em risco máximo de incêndio, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

Estão sob risco máximo de incêndio todos os concelhos dos distritos de Bragança e Guarda e a maioria dos de Viseu e Castelo Branco.

Também em risco máximo estão dezenas de municípios dos distritos de Viana do Castelo, Braga, Porto, Aveiro, Coimbra, Leiria, Santarém, Portalegre e Faro.

Doze distritos de Portugal continental estão, até esta terça-feira, sob aviso laranja (o segundo mais grave) devido ao tempo quente. Segundo o IPMA, o aviso laranja vai estar activo até às 18:00 de terça-feira em Vila Real, Castelo Branco, Santarém e Lisboa, estendendo-se até às 23:00 no distrito de Viseu. Já nos distritos de Bragança, Guarda, Portalegre, Évora, Beja, Setúbal e Faro mantém-se activo até às 24:00 de terça-feira.

Guia para bombeiros

A Direção-Geral da Saúde (DGS) lançou um guia com recomendações nutricionais específicas para bombeiros, reforçando a importância de uma alimentação adequada face às exigências físicas e mentais, especialmente durante situações de emergência como o combate a incêndios.

“Pelas exigências físicas e psicológicas associadas à sua atividade profissional, os bombeiros estão frequentemente expostos a contextos adversos e imprevisíveis”, o que requer “uma preparação física e mental sólida” e uma alimentação adequada, refere a DGS.

Publicado pelo Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável (PNPAS) da DGS, o Guia Prático apresenta, de uma forma simples, recomendações alimentares adaptadas aos períodos de maior exigência física, com especial enfoque no combate a incêndios florestais.

“Estas recomendações têm como objetivo garantir que os bombeiros apresentam um adequado estado de hidratação, uma ingestão energética adequada por via da ingestão regular de hidratos de carbono de rápida absorção e ao mesmo tempo uma reduzida ingestão de gorduras”, lê-se no guia que pode ser consultado no site da DGS.

A autoridade de saúde aconselha uma ingestão proteica adequada ao longo do dia, que deve ser reforçada em situações de combate a incêndio prolongadas, e beber água sempre que possível, evitando bebidas que promovem a desidratação.

Recomenda também o consumo de “bebidas/géis para desportistas, de modo a assegurar uma adequada hidratação e equilíbrio eletrolítico”.

Consumir alimentos ricos em hidratos de carbono (pão, cereais, fruta), de forma a assegurar as necessidades energéticas, também faz parte das recomendações.

A DGS sublinha que estas recomendações são destinadas especificamente para proporcionar “um adequado desempenho em situações de `stress` físico e psicológico, não sendo por isso recomendações que devam ser seguidas diariamente”.

O guia inclui igualmente orientações destinadas às corporações de bombeiros, instituições e estabelecimentos de restauração que fornecem refeições a estes profissionais, de forma a assegurar que a alimentação constitui um apoio efetivo à sua missão.

“Uma alimentação ajustada às necessidades específicas destes momentos é essencial para manter a resistência física, a capacidade funcional e para promover uma recuperação eficaz após esforços intensos, contribuindo também para reduzir o risco de fadiga e lesões. Garantir um consumo alimentar adequado, durante e após as ocorrências, é por isso fundamental”, salienta a DGS.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP // Lusa

8 Comments

  1. Eles vão ao terreno, quando passar os incêndios, para dar abraços e beijinhos a uma velhota e lhe prometer uma casa nova a frente de meia dúzia de jornalistas …

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  2. O que é que lá vão fazer? Os políticos, sejam eles de que quadrante político, não passam de uns idiotas e também para fazerem as figuras tristes que fez o pateta das selfies, não vale a pena irem.

  3. enquanto tivermos “florestas” de eucalipto que é uma árvore adaptada a climas desérticos que se adaptou a sobreviver através do fogo e termos corporações de bombeiros em part time, nada vai mudar.

    só faz sentido uma coisa destas se for intencional.

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  4. No ano passado houve dias em que 5000 bombeiros estiveram a combater os fogos.
    Este ano cerca de 2000 bombeiros.

    A malta que está no gabinete no fresquinho deviam de ter vergonha e pedir a demissão.
    Nunca planeiam a tempo, nem estão preparados.
    Só no ultimo momento é que mandam mais bombeiros que estão a 500 km do teatro das operações. São uns tristes.
    1 corda e 2 troncos

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