Os remanescentes de incêndios recordes no ano passado podem “despertar” após a primavera anormalmente quente e seca, causando novos fogos no Ártico, alertaram os cientistas.
O Ártico passou por incêndios recordes no verão do ano passado e ainda não estará fora de perigo. “Incêndios zombies” adormecidos espalhados por toda a região do Ártico podem voltar à vida.
“Vimos observações de satélite de incêndios ativos que sugerem que incêndios zombies podem ter reacendido”, disse Mark Parrington, cientista sénior e especialista em incêndios florestais do Serviço de Monitorização Atmosférica Copernicus da União Europeia, citado pelo Raw Story.
Os hotspots, que ainda não foram confirmados por medições no solo, estão particularmente concentrados em áreas que queimaram no verão passado.
O ano de 2019 foi marcado por incêndios sem precedentes em escala e duração em grandes áreas da Sibéria e do Alasca. Em junho – o mais quente já registado -, estima-se que as chamas tenham libertado 50 milhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera, equivalente às emissões anuais da Suécia.
“Podemos ver um efeito cumulativo da temporada de incêndios do ano passado no Ártico, o que alimentará a próxima temporada e poderá levar a incêndios em larga escala e de longo prazo na mesma região mais uma vez”, disse Parrington.
O risco de incêndios florestais aumenta com o clima quente e a baixa humidade. A Europa, em particular, registou temperaturas recordes em março e abril deste ano.
“Houve um calor tremendo no Ártico que levou a muita secagem, deixando os solos de turfa maduros para queimar”, disse Mike Waddington, especialista em ecossistemas de bacias hidrográficas da Universidade McMaster, em declarações à AFP.
“Um incêndio zombie é um incêndio que continua a queimar no subsolo e depois reacende na superfície após um período de tempo”, explicou Waddington.
Brasas profundas em solos orgânicos, como turfa, podem incendiar-se semanas, meses e até anos depois.
Os cientistas que monitorizam o Alasca viram um fenómeno semelhante. “Observaram crescentes ocorrências em que os incêndios sobrevivem aos meses frios e húmidos do inverno boreal por combustão lenta e ressurgiram na primavera seguinte”, relatou o Alaska Fire Science Consortium no seu boletim da primavera de 2020.
Desde 2005, cientistas no Alasca identificaram 39 desses “incêndios de remanescência”. A maioria dos incêndios era muito pequena – menos de 11 hectares e, na maioria dos casos, menos de um – para ser detetada. Porém, sete deles eram visíveis do espaço.
As grandes chamas do ano passado foram alimentadas pelo calor recorde. Partes da Sibéria e do Alasca estavam até 10ºC mais quentes do que o normal durante semanas a fio.
As temperaturas na Gronelândia aceleraram o derretimento da camada de gelo com quilômetros de espessura da ilha, resultando numa perda líquida de 600 mil milhões de toneladas de massa de gelo no ano – representando cerca de 40% do aumento total do nível do mar em 2019.
quilômetros ou quilómetros?