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Fogo chegou ao coração do “maior tesouro” da Madeira (e ninguém está lá para o apagar)

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Imagens dão conta de focos de incêndio há mais de dois dias sem quaisquer forças de combate por perto. “Há espécies que já se terão extinguido” — mas o Governo Regional diz o contrário.

A Floresta Laurissilva da Madeira foi atingida pelo incêndio que lavra há nove dias na ilha da Madeira.

Focos de incêndios no “coração” da floresta, classificada pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade desde 1999, foram avistados por moradores de São Vicente, que se mostram preocupados.

Ao Diário, que recebeu imagens exclusivas, os populares dão conta de um foco de incêndio que estará a lavrar há mais de dois dias, sem que nenhum elemento das autoridades apareça para o apagar.

“Desvalorização” (e um perigo futuro)

Também a Quercus garante à RTP que a Laurissilva está a ser afetada pelo incêndio, que já destruiu mais de 5.500 hectares da ilha.

A Organização Não Governamental de Ambiente portuguesa aponta o dedo ao Governo Regional pela desvalorização da área e das suas espécies.

Temos vindo a assistir a uma desvalorização por parte do presidente do Governo regional para com toda uma vegetação que estava a ser já afetada”, diz a ONG. “Há espécies que só existem em vegetação de altitude que eventualmente já se terão extinguido com estes fogos”.

E a Quercus avisa para um perigo futuro: quando chegar a chuva, os estragos vão notar-se ainda mais. A água não vai conseguir infiltrar-se nos solos danificados e vai manter-se à superfície, onde vai escorrer e “arrastar tudo o que encontra pelo caminho, numa zona acidentada onde a aceleração ainda é maior”.

Governo regional diz o contrário

Entretanto, a Proteção Civil não dá conta de quaisquer incêndios nesta zona: ao meio-dia desta quinta-feira, havia apenas indicação de duas frentes ativas na Lombada da Ponta do Sol e na Cordilheira Central do Pico Ruivo, onde a situação é mais dramática.

Confrontado na tarde desta quinta-feira com o ponto de situação da relíquia com 20 milhões de anos, que cobre 20% do arquipélago, vogal do Instituto de Florestas e Conservação da Natureza confessou aos jornalistas que “ainda não se sabe a intensidade dos estragos nessas zonas” da Laurissilva.

“Acreditamos que é seguro dizer que a Laurissilva foi marginalmente atingida”, diz  Paulo Oliveira, que no entanto garante: “A integridade do que a faz ser classificada como património está garantida“.

Miguel Albuquerque, que tem sido duramente criticado pela sua atuação perante as chamas, também garantiu esta quinta-feira que grande parte da floresta Laurissilva está salvaguardada“.

“Houve muito mato queimado, carqueja, eucaliptos”, mas “todo o núcleo de Laurissilva, lauráceas da vertente norte” não foram atingidas, disse ainda.

Mas se “a própria Proteção Civil diz que os incêndios já estão a descer para o Caldeirão do Inferno, já estamos a falar da Floresta Laurissilva”, explica a Quercus.

“Último reduto de um período subtropical”

Com 20 milhões de anos, a Floresta Laurissilva da Madeira é o “último reduto de um período subtropical” e alberga seres vivos que existem desde o Período Terciário, lembra a investigadora Helena Freitas em declarações à TSF.

Está na base da economia da região, uma vez que é a partir da sua humidade que se produzem vários alimentos.

“No dia em que isso deixar de acontecer, a ilha perderá toda a sua capacidade produtiva, e perde também o maior tesouro que tem”, avisa a investigadora, que está “perplexa” com a “lentidão” das autoridades no combate às chamas.

“É uma relíquia“, considera a professora da Universidade de Coimbra.

Única no mundo, a Laurissilva alberga mais de 1.200 espécies de plantas, muitas das quais endémicas, como o loureiro (Laurus novocanariensis), o til (Ocotea foetens) e o barbusano (Apollonias barbujana). É também habitat de várias espécies de aves raras, como o pombo-trocaz (Columba trocaz), também ele exclusivo da ilha da Madeira.

Canadair vão atuar esta quinta-feira

Os dois aviões Canadair, enviados pela União Europeia, deverão atuar ainda esta quinta-feira na cordilheira central.

Perto de duas centenas de pessoas foram forçadas a sair das suas habitações por precaução. Muitos já regressaram, mas os moradores de Fajã das Galinhas, em Câmara de Lobos, ainda não puderam regressar.

O combate às chamas tem sido dificultado pelo vento e pelas temperaturas elevadas, mas não há registo de destruição de casas ou de infraestruturas essenciais.

Tomás Guimarães, ZAP //

4 Comments

  1. Sr.º Presidente da Região Autónoma da Madeira, Miguel Albuquerque, peça à Federação da Rússia (FR) que envie os seus aviões Beriev Be-200, o Interesse Nacional e Regional assim o exigem, não tenha medo!

  2. Gente sem capacidade para os cargos que ocupam, incompetentes, mas quem tem a culpa é quem os pôs lá, ponto final. Perante este cenário deviam pedir a demissão imediatamente, sem receberem as benesses financeiras do costume.

  3. O Miguel Albuquerque não se deixa afetar pelo cheiro do fumo dos incêndios, gosta mais de outros cheiros, ao que consta… deixa de cheirar isso, faz aquilo para que foste eleito (duvido que tenhas capacidade para isso) e limpa os cantos da boca!!!

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