Impressões digitais de crianças em cerâmica com 4500 anos: trabalho infantil na antiga Síria

A análise das impressões digitais de cerâmicas de há 4500 anos, produzidas na antiga cidade síria de Tel Hama, revelou que as crianças de sete e oito anos eram empregadas no fabrico de vasos.

Um equipa de arqueólogos da Universidade de Tel Aviv e do Museu Nacional de Copenhaga chegou a esta conclusão depois de realizar uma investigação detalhada, intitulada “Vidas comuns em tempos extraordinários: uma nova perspetiva sobre as primeiras sociedades urbanas na Síria da Idade do Bronze.

De acordo com o Interesting Engineering, os arqueólogos observaram ainda que dois terços das crianças que fabricavam os recipientes tinham cerca de sete anos de idade.

Segundo os investigadores, o período entre 2400 e 2000 a.C. mostra indícios da prática de trabalho infantil, em que os menores eram treinados para fabricar taças da forma mais uniforme possível.

Uma das razões para isso, acreditam os arqueólogos, pode ser o facto de os copos serem muito procurados, devido às grandes festas. As chávenas precisavam de ter rapidamente substituídas quando se partiam.

Akiva Sanders, investigador principal, afirmou que “penso que uma das coisas mais importantes que esta investigação realça sobre as crianças da Antiguidade é que acaba com a nossa divisão entre crianças inocentes que não desempenham qualquer papel económico e dedicam o seu tempo a aprender, brincar e explorar crianças que trabalha em condições terríveis nas fábricas”.

Universidade de Tel Aviv

Os investigadores referiram ainda que este conjunto de cerâmica foi preservado pelo Museu Nacional da Dinamarca e escavado na década de 1930. Sanders explicou que o início da Idade do Bronze assistiu ao aparecimento de cidades-reinos no Levante e na Mesopotâmia.

Os investigadores começaram a explorar a forma como a urbanização e a centralização das funções governamentais influenciaram as indústrias, como a da cerâmica, durante este período.

Além disso, Sanders partilhou que a análise das impressões digitais indicou que metade do oleiros tinha menos de 18 anos, com rapazes e raparigas em proporções iguais. Este é um fenómeno que também se vê na Revolução Industrial na Europa e na América. É muito fácil controlar as crianças e ensinar-lhes movimentos específicos para criar uma estandardização no artesanato”.

Outras investigação indicam que a cidade de Tel Hama era um importante centro de produção de cerâmica. No início, os oleiros eram jovens, mas a demografia começou a mudar após o estabelecimento do Reino de Ebla.

De acordo com os investigadores, esta situação assemelhava-se aos padrões observados durante a Revolução Industrial, em que as crianças trabalhadoras eram frequentemente treinadas para efetuar movimentos repetitivos específicos para garantir a consistência da produção.

“Estas crianças ensinavam-se umas às outras a fazer figuras e vasos em miniaturas, sem o envolvimento dos adultos. É seguro dizer que foram criadas por crianças — e provavelmente incluindo as crianças habilidosas das oficinas de fabrico de chávenas. Parece que, nestas figuras, as crianças exprimiam a sua criatividade e imaginação“, afirmou Sanders.

Teresa Oliveira Campos, ZAP //

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