“Impressões digitais do cérebro” dos adolescentes permitem prever doenças mentais futuras

O cérebro dos adolescentes passa por mudanças rápidas e dinâmicas que são determinantes no desenvolvimento futuro de doenças mentais.

Apesar dos esforços dos clínicos e investigadores durante décadas, ainda não sabemos por que é que algumas pessoas desenvolvem distúrbios mentais e outras não. No entanto, as nossas melhores pistas são as mudanças no cérebro.

O cérebro adolescente é particularmente importante nesta busca já que as mudanças durante este período são rápidas e dinâmicas, esculpindo a nossa individualidade. Mais do que isto, a maioria dos distúrbios mentais emergem durante a adolescência, com mais de metade a ocorrer aos 14 anos de idade e três quartos até aos 25 anos.

Ao monitorizar e registar as mudanças cerebrais, podemos responder aos crescentes problemas de saúde mental na adolescência e avançar com tratamentos mais cedo. O desafio é prever com precisão a probabilidade de uma pessoa desenvolver um distúrbio mental muito antes de este acontecer.

Um estudo recente publicado na NeuroImage foi o primeiro a fazer uma análise longitudinal aos cérebros adolescentes e mostra o que os torna únicos “ou a sua “impressão digital cerebral“) e pode ajudar a prever os problemas mentais.

Os nossos cérebros únicos em ação

Tal como as impressões digitais são únicas, cada cérebro humano tem um perfil único de sinais entre as regiões cerebrais que se tornam individualizadas e especializadas com o avançar da idade.

O estudo envolve 125 participantes, a partir dos 12 anos, com mais de 500 exames cerebrais entre si, e acompanha-os durante cinco anos através de imagens cerebrais e análises cognitivas e psicológicas.

Os autores observaram o conectoma funcional de cada indivíduo — o sistema cerebral de caminhos neurais — e descobriram que estas características únicas estão significativamente associadas com novo sofrimento psicológico reportado na altura dos exames subsequentes, quatro meses depois. Ou seja, o nível de individualidade é um preditor da saúde mental.

As ressonâncias magnéticas foram feitas durante um momento de descanso, mas dizem-nos muito sobre a atividade cerebral, tal como como o cérebro mantém as ligações a funcionar ou se prepara para fazer algo.

Nos participantes com 12 anos, foram encontrados conectomas funcionais únicos em todo o cérebro. Mas uma rede mais específica — envolvida no controlo de comportamentos direcionados a objetivos — é menos única no início da adolescência. Por outras palavras, esta rede é mais semelhante entre todos.

O alcance da sua singularidade pode prever os sintomas de ansiedade e depressão que surgem mais tarde. Por isso, aqueles que têm cérebros menos únicos têm níveis mais altos de sofrimento com o passar do tempo.

Perceções ricas

Os investigadores suspeitam que o nível de maturação nesta rede neural pode dar uma explicação biológica para a maior vulnerabilidade ao sofrimento mental entre os adolescentes. Podem ser os atrasos na “afinação” destas redes de execução que causam mais problemas de saúde mental.

Esta abordagem permite-nos estabelecer melhor a ocorrência e sequência de mudanças no nosso cérebro e os riscos de saúde mental. Os estudos ricos em dados ao longo de um período longo são a chave para se descobrir este “santo graal” da neurociência.

Identificar os riscos para a saúde mental nos adolescentes significa que podemos intervir antes da idade adulta, quando muitos distúrbios mentais se enraízam e são mais difíceis de resolver.

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