Um implante de bateria que “come” oxigénio curou 90% do cancro em ratos

Os doentes com cancro submetem-se a quimioterapia e a outros tratamentos que causam vários efeitos secundários e um intenso sofrimento físico. Uma equipa de investigadores da Universidade Fudan, em Xangai, afirma ter criado uma terapia anticancerígena melhor e mais segura do que a atual.

A equipa desenvolveu um sistema de bateria implantável que identifica ambientes de baixo teor de oxigénio no corpo humano, locais esses que suportam a atividade tumoral. O sistema inclui uma bateria de água salgada auto-carregável e um medicamento anticancerígeno chamado tirapazamina.

Ao invés de visar as células cancerígenas de forma individual, o sistema de entrega de medicamentos por bateria ataca o ambiente em que muitos tumores cancerígenos se originam e prosperam.

Num estudo recentemente publicado na Science Advances, os investigadores testaram o seu sistema anticancerígeno em ratos com tumores e os resultados foram excitantes, relatou o Interesting Engineering.

A ausência de oxigénio nas células cancerígenas e no seu ambiente circundante é uma distinção conhecida entre essas e as células saudáveis. Estudos anteriores também confirmaram que a hipoxia, ou a falta de oxigénio, favorece a progressão das células cancerígenas.

“A hipoxia patológica afeta tanto as células cancerígenas como o microambiente tumoral e desempenha um papel central no processo de progressão e disseminação do cancro. A hipoxia regula a neovascularização tumoral, o metabolismo, a sobrevivência celular e a morte celular”, observaram os autores de um estudo sobre cancro e hipoxia publicado em 2015.

Os investigadores da Universidade de Fugan perceberam essa ligação e desenvolveram um sistema de bateria que deteta ambientes cancerígenos e simultaneamente utiliza a hipoxia contra os tumores.

A bateria de água salgada identifica microambientes tumorais de baixo oxigénio e depois mantém a hipoxia nesses locais até que a tirapazamina destrua as células cancerígenas.

Uma vez que a bateria regula as condições do tumor e a tirapazamina apenas visa células em condições de baixo nível de oxigénio, as células saudáveis não são afetadas durante o processo. O sistema da bateria foi testado em cinco ratos. Em duas semanas, reduziu o volume do tumor cancerígeno em 90% em quatro deles.

A maioria das células cancerígenas foram mortas e não foram observados efeitos secundários significativos. Ao contrário do que acontece quando os ratos são submetidos a um tratamento padrão de cancro, desta vez não perderam peso nem sofreram alterações no seu cabelo, pele ou outros órgãos.

“Estes resultados sugerem que a pré-administração da bateria de descarga para criar um ambiente hipóxico a longo prazo pode aumentar muito a eficácia antitumoral da tirapazamina. Além disso, não foram observadas alterações óbvias do peso e da morfologia dos principais órgãos dos ratos”, referiram os investigadores.

Segundo os cientistas, o sistema de bateria implantável é biocompatível e pode regular a hipoxia numa célula cancerígena durante mais de 14 dias. A abordagem terapêutica ainda não foi testada em humanos, mas será inovadora se apresentar os mesmos resultados que mostrou em ratos.

“A utilização de dispositivos implantáveis para regular o microambiente tumoral ‘in situ’ pode ser uma forma mais eficaz de terapia do cancro”, disseram os autores do estudo Fan Zhang e Yongyao Xia.

ZAP //

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