A revista Science elegeu a primeira imagem real de um buraco negro, revelada a 10 de abril, como o avanço científico de 2019.
A Science elegeu a primeira imagem real de um buraco negro como o avanço científico de 2019, no qual esteve envolvido o astrofísico português Hugo Messias.
Justificando a escolha, o editor de notícias da revista, Tim Appenzeller, disse, citado num comunicado divulgado esta quinta-feira, que se trata de “um feito surpreendente da tecnologia e de uma equipa” de cientistas. O feito foi distinguido em novembro, nos Estados Unidos, com o Prémio Breakthrough, no valor de 2,7 milhões de euros.
A imagem da silhueta do buraco negro, situado no centro da galáxia Messier 87, na constelação Virgem, a 55 milhões de anos-luz da Terra, foi obtida graças a uma rede de oito radiotelescópios em várias partes do mundo. Hugo Messias, investigador do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, participou nas observações a partir do Chile, com o radiotelescópio ALMA.
Até à divulgação da imagem da sombra deste corpo denso, do qual nem a luz escapa, só havia imagens artísticas de buracos negros.
Na imagem, o buraco negro, que tem uma massa 6,5 milhões de vezes superior à do Sol, surge envolto por um anel de gás quente e luminoso – matéria incandescente no estado de plasma.
“O diâmetro do anel revela que no interior existe um corpo extremamente ‘massivo’. Não só isso, mas pela assimetria, por essa morfologia ter permanecido igual ao longo da campanha de observação e pela existência de um jato a sair das suas redondezas”, explicou anteriormente à Lusa Hugo Messias, assinalando que o objeto “está a rodar no mesmo sentido que a matéria incandescente em volta”.
A sombra do buraco negro é o mais próximo do buraco negro em si que é possível captar em imagem, uma vez que este é um corpo denso e totalmente escuro e, portanto, não se vê.
O termo buraco é enganoso, pois não existe qualquer buraco. O que se passa é que “qualquer matéria que se aproxime para lá da última órbita de fotões [partículas de luz] não regressará, dando a impressão que caiu para um poço sem fundo”, esclareceu Hugo Messias.
Ao todo, mais de 300 cientistas de diversos países estiveram mobilizados nas observações e no tratamento de dados. A “fotografia” foi obtida a partir de dados recolhidos em 2017 das observações feitas no comprimento de onda rádio.
Além de inédita, a imagem permitiu comprovar mais uma vez a Teoria da Relatividade Geral, de 1915, do físico Albert Einstein, que postula que a presença de buracos negros, os objetos cósmicos mais extremos do Universo, deforma o espaço-tempo e sobreaquece o material em seu redor.
O buraco negro foi batizado de Powehi. A palavra – que tem raízes em “Kumulipo”, o poema épico da antiga religião havaiana – significa “a obscura fonte embelezada da criação infinita” e foi proposta pelo professor de línguas da Universidade do Havaí em Hilo, nos Estados Unidos, Larry Kimura.
Em comunicado, a instituição explica que o objeto espacial foi batizado com um nome havaiano porque dois dos telescópios que foram utilizados para a descoberta localizam-se no território deste estado norte-americano.
A revelação da “foto” permitirá aprofundar a investigação sobre a natureza dos buracos negros, que “habitam” os centros das galáxias, e perceber melhor como as galáxias se formaram.
ZAP // Lusa
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