Uma nova abordagem para tratar alguns dos pensamentos intrusivos no transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) está a inspirar-se numa ilusão clássica que engana o nosso cérebro.
Segundo o Science Alert, a ilusão da mão de borracha consiste em colocar as nossas duas mãos sobre uma superfície, com uma divisória entre ambas. Então, a mão de borracha fica paralela a uma das mãos verdadeiras, dentro do nosso campo de visão, enquanto a outra fica escondida do outro lado da divisória.
De seguida, a mão verdadeira e a mão de borracha que está do outro lado da divisória são estimuladas ao mesmo tempo, com o toque de um pincel, por exemplo. A certa altura, o nosso cérebro leva-nos a sentir que a mão de borracha é a nossa própria mão.
Surgido nos anos 90, este é um truque clássico da ciência cognitiva que já foi usado em vários estudos ao longo dos anos. No entanto, pesquisas anteriores descobriram que, em pessoas com esquizofrenia ou transtorno dismórfico corporal (TDC), o toque com o pincel não precisa de ser necessariamente sincronizado para que a ilusão tenha efeito.
Por isso, estes resultados sugerem que algumas pessoas com distúrbios mentais podem ser mais suscetíveis a essa ilusão, podendo ser usada em vez da terapia de exposição — um método de tratamento no qual os pacientes são gradualmente expostos à fonte da sua ansiedade. Para pessoas com TOC, relacionado com limpeza excessiva, isso pode significar sujar a mão de borracha, em vez da mão real da pessoa.
Para testar esta hipótese, uma equipa de cientistas testou esta ilusão em 29 pacientes com TOC. Para 16 pessoas do grupo, a mão de borracha e a mão real foram tocadas ao mesmo tempo, enquanto que para os restantes 13 foram tocadas de forma assíncrona.
Passados cinco minutos, foram colocadas fezes falsas na mão de borracha, enquanto os participantes tinham um pano húmido na mão real (para simular a mesma sensação). Foi então pedido aos voluntários que avaliassem os seus níveis de repulsa, ansiedade e desejo de lavar as mãos. Nos dois grupos, os participantes relataram níveis semelhantes no sentimento pela mão parecer real e por estar contaminada.
O experimento continuou por mais cinco minutos, antes dessas classificações serem feitas novamente. Desta vez, foram os voluntários que sentiram o toque sincronizado que sentiram os maiores efeitos da contaminação.
De seguida, quando os participantes tiveram as suas mãos direitas reais cobertas com fezes falsas, foi novamente o grupo com os padrões de toque sincronizado que apresentou os níveis mais altos de repulsa, ansiedade e desejo de lavar as mãos.
“Com o tempo, tocar nas mãos reais e falsas em sincronia parece criar uma ilusão cada vez mais forte, na medida em que, eventualmente, se parecia muito com a própria mão. Isto significou que, após dez minutos, a reação à contaminação foi mais extrema”, explica Baland Jalal, neurocientista da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e cujo estudo foi agora publicado na revista científica Frontiers in Human Neuroscience.
“Embora esse tenha sido o ponto final do nosso experimento, a investigação mostrou que a exposição contínua leva a um declínio nos sentimentos de contaminação — que é a base da terapia tradicional de exposição”, acrescenta.
Por outras palavras, ao enganar os cérebros dos pacientes, fazendo-os pensar que as mãos de borracha eram reais, as técnicas padrão da terapia de exposição — nas quais seria pedido aos pacientes que deixassem as mãos sujas por períodos cada vez mais longos — poderiam ser aplicadas de forma menos direta e menos indutora de stress.
Agora, os investigadores querem testar as suas hipóteses com um grupo maior de voluntários e em comparação direta com outros tipos de tratamento.