Iémen é a vítima silenciosa da guerra na Ucrânia

13

O mundo está de atenções viradas aquilo que está a acontecer na Ucrânia, mas no Iémen, a crise humanitária está pior do que nunca.

Desde 2015, a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, apoiados pelos Estados Unidos, têm travado uma guerra no Iémen, numa tentativa de restabelecer o Governo pró-saudita derrubado por uma revolução popular. O grupo rebelde houthi, que Riade acusa de ser apoiado pelo Irão, tem tentado resistir aos árabes.

A Organização das Nações Unidas descreveu a situação vivida no Iémen como a maior catástrofe humanitária do mundo. O Programa Alimentar Mundial estima que metade das crianças do país com menos de cinco anos correm o risco de desnutrição aguda, com 400.000 em risco de morrer se não receberem tratamento.

Como o The Intercept realça, desde o presidente Barack Obama, sucessivas administrações americanas apoiaram a Arábia Saudita na sua guerra no Iémen.

A presidência de Joe Biden veio alegadamente mudar isso, com o líder norte-americano a prometer travar o conflito e acabar com “o ‘cheque em branco’ de Donald Trump pelos abusos dos direitos humanos da Arábia Saudita”.

Cerca de um ano depois, a promessa eleitoral de Biden parece ter sido em vão. A crise humanitária no Iémen nunca esteve pior, nem durante o Governo de Trump.

No ano passado, a Arábia Saudita reforçou um bloqueio de combustível, travando as importações iemenitas. As importações de combustível permitidas pelos sauditas rondam, em média, as 45 mil toneladas por mês, menos de um décimo das necessidades do país antes do conflito.

As consequências não tardaram e registaram-se quebras generalizadas de energia em hospitais. Além disso, os preços dos alimentos subiram em áreas controladas pelos houthis, agravando a crise de fome no país.

David Beasley, diretor-executivo do Programa Alimentar Mundial, visitou Saná, Áden e Amrãn, no Iémen, e realçou que a situação “é pior do que qualquer um pode imaginar”.

“O Iémen voltou ao mesmo desde 2018, quando tivemos que lutar contra a fome, mas o risco hoje é mais real do que nunca”, disse Beasley.

“E quando pensa que não pode piorar, o mundo acorda com um conflito na Ucrânia que provavelmente causará deterioração económica em todo o mundo, especialmente para países como o Iémen, dependentes das importações de trigo da Ucrânia e da Rússia. Os preços vão subir, agravando uma situação já terrível”, acrescentou.

Daniel Costa, ZAP //

Siga o ZAP no Whatsapp

13 Comments

  1. A agressão saudita ao Iémen é provavelmente uma das evidências mais gritantes da hipocrisia da comunicação mainstream. É o “ocidente” que suporta a agressão, com todas as infraestruturas destruídas, milhares de mortos, fome generalizada, bombardeamentos indiscriminados de alvos civis, uma galeria de horrores que aparentemente não tira o sono a ninguém. Talvez fosse diferente se os iemenitas fossem loiros…

    • Aposto que não sabes nada do que se passa no Iémen…

      No Iémen há uma guerra civil sem qualquer comparação possível com o que se passa na Ucrânia e, só quem nada sabe NADA do assunto é capaz sequer de tentar comparar… na Ucrânia não há ucranianos contra ucranianos; há ucranianos a defenderem-se de uma invasão russa.

      Dizer que é o Ocidente “que suporta a agressão” é a prova que sabes zero sobre o que se passa no Iémen, mas, mesmo assim, achas que tens moral para criticar os media e o Ocidente…
      Típico…

  2. Fico surpreendido e louvo a coragem do jornalista autor deste artigo sobre a situação no Iémen, País que, como outros, Jugoslávia, Afeganistão, Iraque, Líbia, Sudão, Somália, Síria, sofreram e sofrem o resultado da política agressiva e expansionista dos Estados Unidos e do seu braço armado a NATO.

    • Sim, esses eram todos paraísos na terra antes das intervenções dos EUA…

      O Iémen está em guerra civil e o conflito não tem qualquer comparação com a invasão da Ucrânia, mas o pior é ver os EUA a apoiar militarmente (maior venda de armamento de sempre, no ano passado!) uma das piores ditaduras do mundo (até vão a outro país matar e esquartejar um jornalista) como se a Arábia Saudita fosse um país civilizado… isto além o Bin Laden ser saudita e a maioria dos terroristas do 11 de Setembro também!…

      Mas a Europa também é culpada por apoiar F1, MotoGP, Dakar, Mundial de futebol, etc, etc, nesses países manhosos que são “abertamente” ditaduras!…

  3. Se as crianças iemenitas fossem loiras e tivessem olhos azuis, não faltaria quem estivesse pronto a recebê-las, inclusive no nosso tão generoso país…

      • O que eu e a minha mulher fizemos no respeitante a crianças de outras etnias é cá comigo. Basta dizer que não tenho de receber lições de ninguém, e muito menos de uma pessoa como tu…

          • Pois venho, porque é infame que as pessoas só se preocupem com a guerra da moda, e totalmente ignorem a tragédia das crianças do Iémene mortas todos os dias com armas americanas.

          • Quem ignorou?
            Sabes que no Iémen há uma guerra civil, ao contrário da Ucrânia onde há uma invasão russa, não sabes?
            Armas americanas e não só… não falam por lá armas russas!!

  4. Atenção que a Arábia Saudita é pró-rússia pela abstenção que tem tido na guerra na Ucrânia, logo quem se opuser a esta, terá os lacaios dos russos à perna. Porque o mundo atualmente morre de medo da Rússia e se esta ganhar a guerra na Ucrânia, não vai ficar por aí.

  5. O que é certo é que na guerra da Ucrânia os EUA vendem armas à Ucrânia e brevemente gás à Europa. Sempre a faturar.

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.