Classe docente a envelhecer: são cada vez menos os professores que têm menos de 40 anos de idade. Tendência mudou no novo século.
Quase metade dos professores do ensino superior tem mais de 50 anos e são cada vez menos os docentes abaixo dos 40, segundo dados da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC), que mostram uma classe a envelhecer.
No início deste século, um aluno cruzar-se com um professor com menos de 40 anos nos corredores da universidade ou do instituto politécnico era tão usual como é agora encontrar um docente com mais de 50 anos.
No ano letivo de 2001/2002, quase metade dos professores (48%) tinha menos de 40 anos, mas duas décadas depois, representam apenas 21,5% do total de docentes. Por outro lado, os que têm mais de 50 anos passaram de 22,8% para 46%, segundo dados da DGEEC.
O envelhecimento é um dos principais dilemas com que se debatem as instituições de ensino superior, alertou a presidente do Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNESup).
“Tem-se falado muito dos professores do ensino básico e secundário, mas temos um problema semelhante no ensino superior. A média etária dos professores está acima dos 50 anos”, disse Mariana Gaio Alves, em declarações à Lusa.
Segundo a responsável, a questão é mais fácil de resolver no ensino superior do que no ensino obrigatório, onde faltam professores e jovens entusiasmados com a ideia de enveredar pela carreira.
Ser professor numa instituição de ensino superior continua a ser atraente e, “se se resolver o problema da precariedade, consegue-se evitar que os alunos venham a ter falta de professores”, defendeu Mariana Gaio Alves.
No início do século, havia cerca de 35 mil docentes nas universidades e politécnicos de instituições particulares e públicas. Em vinte anos, o aumento de professores foi inferior a mil, mas o número de alunos disparou: passou de cerca de 396 mil para 416 mil este ano.
“No básico e secundário fala-se da necessidade de formar mais professores, nós precisamos de estabilizar carreiras. Temos muitos investigadores e professores que estão precários e estando estabilizados conseguimos ter quadros de trabalhadores nas universidades, politécnicos e centros de investigação mais estáveis”, explicou.
Segundo dados do SNESup, a taxa de precariedade na carreira docente ronda os 42% e entre os investigadores está entre os 70 e os 75%.
“Não podemos chegar a uma situação em que não tenhamos professores e investigadores interessados nestas carreiras e nestas atividades, porque será uma perda para o país”, alertou.
Segundo Mariana Gaio Alves, os “últimos dados do ministério indicam que a precariedade entre os professores aumentou”.
Há uma década – no ano letivo de 2012/2013 – dois em cada três docentes tinham a situação de contratação mais estável: 65,5% encontrava-se em tempo integral e com dedicação exclusiva.
A percentagem foi descendo e, no ano letivo de 2018/19, eram pouco mais de metade (53,1%), segundo uma análise feita pelo SNESup aos dados da DGEEC.
Para o sindicato, a precariedade e o envelhecimento são “dois dos principais problemas dos docentes e investigadores” que serão alvo de debate hoje, durante o Fórum Liberdade e Democracia.
O fórum, promovido pelo SNesup, conta com a participação de meia centena de pessoas que representam associações, empresas, universidades, politécnicos, dirigentes de centros de investigação e representantes de partidos políticos, contou à Lusa a presidente do sindicato.
A ideia é “promover o diálogo e o debate em torno dos problemas que afetam o ensino superior e ciência, assim como procurar fomentar a discussão sobre propostas e medidas políticas a tomar para resolver os problemas e continuar a assegurar qualidade do Ensino Superior e Ciência do nosso país”, disse Mariana Gaio Alves.
// Lusa