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Há um hotel onde pode dormir com a cabeça num país e as pernas noutro

Hotel L'Arbézie

“De uma divisão a outra e até de um degrau a outro, irá da França à Suíça sem perceber”. É assim que o Hotel L’Arbézie se apresenta aos seus visitantes como um espaço único, uma vez que está mesmo no traço de fronteira entre aqueles dois países. E tudo começou com a manha de um contrabandista.

Construído no Século XIX, o Hotel L’Arbézie tem o típico estilo alpino de tantos outros estabelecimentos procurados por turistas adeptos dos desportos de inverno nas montanhas da Suíça. Mas a sua história é inigualável!

Este hotel único fica situado mesmo em cima da fronteira entre a França e a Suíça, no “coração” do Parque Natural do Haut-Jura e Vaudois, a cerca de duas horas de carro da cidade francesa de Lyon, e próximo do Lago Léman, o maior da Europa ocidental, que banha Genebra, a capital suíça.

Mas “de uma divisão a outra e até de um degrau a outro, irá da França à Suíça sem perceber“, nota-se no site oficial do hotel, sublinhando-se os “quartos pitorescos muito confortáveis”.

Tem também um restaurante com “cozinha de montanha, simples e saborosa, onde a França e a Suíça se unem, por vezes, no prato“, nota-se ainda.

Mas o que distingue, afinal, este hotel dos demais? É essa história que lhe vamos contar…

Contrabando originou hotel único no mundo

Tudo começou com um tal de Ponthus que, em Dezembro de 1862, foi directamente afectado pelas novas fronteiras redesenhadas por Napoleão III de França no âmbito do Tratado de Drappes.

A nova fronteira entre França e Suíça atingiu a propriedade de Ponthus que decidiu construir o seu negócio mesmo em cima do traço divisório. Uma ideia que tinha más intenções por trás, uma vez que se dedicava ao contrabando – seria, portanto, uma forma de fugir às autoridades dos dois países.

Assim, entre a proposta de Napoleão III e a consumação das novas fronteiras, o que ocorreu em 1863, construiu uma loja no lado suíço e um bar no lado francês, como se relata no site do L’Arbézie.

Foram os descendentes de Ponthus que, mais tarde, transformaram o espaço no Hotel Franco-Suíço.

“Quartel” da resistência contra os nazis

Durante a Segunda Guerra Mundial, o hotel era a divisória entre a zona ocupada pelos alemães e a zona livre. Nessse período, dada essa situação particular, tornou-se num “quartel” da resistência contra os nazis, ajudando a esconder judeus, fugitivos e até pilotos ingleses.

Após a guerra, os donos do estabelecimento foram recompensados pelo General De Gaulle pelos actos de bravura nesse período.

Foi também depois desse conflito mundial que as autoridades suíças e francesas chegaram a “um acordo” – “o hotel será considerado suíço pelos franceses e francês pelos suíços“, como se relata no site oficial do estabelecimento.

A “situação inédita” levou o então dono, Max Arbez, a proclamar, com sentido de humor, o Principado de Arbézie em 1958. E Max até dotou a sua “micro-nação” com uma bandeira própria em formato triangular, tal como a propriedade, e com um brasão.

Em 1962, o local foi palco das negociações que puseram fim à guerra da Argélia, com a posterior assinatura dos Acordos de Evian.

Conta-se no site do Arbézie que foi lá que se realizaram “as preliminares” daquele tratado, com as autoridades francesas a negociarem com representantes da Frente de Libertação Nacional da Argélia que chegavam ao local vindos de Vaud, na Suíça.

Para lá de toda esta história, e da curiosidade de poder passar fronteiras sem sair do quarto, o Hotel L’Arbézie tem até preços acessíveis – pelo menos, para o bolso de alguns.

Um quarto para uma ou duas pessoas custa a partir de 89 euros. Para três pessoas os preços começam nos 109 euros e para uma família de quatro pessoas, com dois adultos e duas crianças, começam nos 129 euros.

Em regime de meia-pensão, os valores começam nos 124 euros por pessoa, ou nos 169 euros por duas pessoas.

Susana Valente, ZAP //

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