Hong Kong está a atravessar a pior vaga desde o início da pandemia de covid-19. A política de “tolerância zero” está a pressionar os hospitais, que já atingiram 90% da capacidade, tendo alguns começado a tratar os pacientes no exterior.
Os hospitais de Hong Kong atingiram 90% da capacidade e as instalações de quarentena estão no limite. Para aliviar a pressão sobre o sistema de saúde, as autoridades indicaram que iam adotar uma abordagem diferente das políticas de hospitalização e isolamento e permitir que alguns pacientes tivessem alta mais cedo.
A mudança surge depois de relatos de pacientes a serem tratados em camas no exterior de um hospital no bairro da classe trabalhadora da cidade de Sham Shui Po.
Hong Kong relatou, esta quinta-feira, 6.116 novos casos de covid-19, sendo que qualquer pessoa infetada na cidade deve ser internada num hospital ou admitida numa instalação de isolamento comunitário, à semelhança da política de “tolerância zero” da China.
De acordo com a nova abordagem, os contagiados que apresentem sintomas ligeiros nos hospitais e instalações geridas pelo Governo serão autorizados a sair após sete dias se apresentarem um teste negativo no último dia e não partilharem casa com pessoas de grupos de risco – idosos, grávidas ou pessoas imunodeprimidas.
Os que não preencherem estes critérios devem completar o período total de isolamento de 14 dias ou esperar até que apresentem um teste negativo, segundo os funcionários de saúde.
As autoridades comunicaram ainda 24 mortes durante a última semana.
“Nos últimos dias, houve muitos casos de emergência em que tivemos de acomodar doentes em tendas”, disse Chuang Shuk-kwan, a chefe da Secção de Doenças Transmissíveis de Hong Kong, durante uma conferência de imprensa.
“Com estas situações, o nosso pessoal médico está muito descontente. Estamos preocupados com os cuidados dos nossos pacientes”, apontou.
A Autoridade Hospitalar da cidade apelou à assistência dos profissionais de saúde, pedindo aos médicos dos hospitais privados para ajudarem a tratar dos pacientes nas instalações de quarentena.
Os hospitais públicos estão numa “situação de crise”, segundo Sara Ho, da Autoridade Hospitalar. “Se um grande número de pacientes está à espera ao ar livre e se isto continuar, por muito que os nossos médicos trabalhem 24 horas por dia, não há maneira de resolver este problema contando com os nossos esforços”, prosseguiu.
As autoridades apelaram também às pessoas que se abstenham de sair ou participar em reuniões privadas, dizendo que todos os esforços ajudam à medida que a cidade procura aliviar a pressão nos hospitais.
Recentemente, alguns meios de comunicação, que citaram fontes não identificadas, avançaram os planos do Governo de testar até um milhão de pessoas por dia a partir de março. Mas Dong-Yan Jin, virologista da Universidade de Hong Kong, disse que seria “ridículo” realizar testes em massa.
“Testes universais ou para encerrar uma parte particular de Hong Kong, toda a Hong Kong – todo este disparate ridículo”, comentou, em declarações à Sky News. “Não é válido nesta altura. É apenas um completo desperdício de recursos.”
De acordo com o especialista, os hospitais estão sobrecarregados porque até os doentes assintomáticos procuram tratamento. Além disso, os rigorosos critérios de alta médica exigem que os pacientes sejam mantidos nas instalações durante demasiado tempo.
O Presidente chinês, Xi Jinping, ordenou o Governo central a fornecer recursos a Hong Kong para estabilizar o surto, incluindo testes rápidos de antigénios, conhecimentos médicos e mantimentos.
A China tem evitado grandes surtos do vírus através da sua política rigorosa de “tolerância zero”, que envolve a quarentena de viajantes, confinamentos totais, rastreio extenso de contactos e testes em massa a milhões de pessoas.
A líder de Hong Kong, Carrie Lam, manteve a mesma estratégia apesar da maior densidade populacional da cidade, rendimentos mais elevados e a economia, que está mais virada para os serviços do que a China continental.
Na semana passada, todo o bairro na baía Discovery foi ordenado a fazer testes depois de as autoridades terem encontrado vestígios do vírus nos esgotos.
ZAP // Lusa
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