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A origem do Homem em África foi reescrita (outra vez)

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Javier Trueba / Madrid Scientific Films

“Uma espécie, várias origens”

Os humanos atuais são resultado de grupos distintos, que viveram em várias regiões de África e em habitats variados, desde florestas a desertos, uma diversidade que resultou nas atuais características da espécie ‘Homo sapiens’.

O trabalho, liderado por Eleanor Scerri, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e que teve a colaboração do investigador do Instituto Gulbenkian de Ciência Lounes Chikhi, defende, ao contrário das teses prevalecentes, que “milénios de separação deram origem a uma desconcertante diversidade de formas, uma mistura” de antepassados que acabou por moldar a espécie humana.

“A evolução das populações humanas em África foi multi-regional. Os nossos antepassados foram multi-étnicos. E a evolução do nosso material cultural foi multi-cultural”, afirma Eleanor Scerri no estudo.

Os investigadores salientam que os humanos atuais não derivam de uma só população de antepassados, com origem numa só região de África, como é aceite e referido com frequência em várias áreas do conhecimento.

O trabalho, publicado esta quarta-feira na Trends in Ecology and Evolution, vem desafiar a visão estabelecida com base no estudo de ossos, artefactos de pedra e análises genéticas, a que se juntaram reconstituições mais detalhadas do clima e habitats de África, nos últimos 300 mil anos.

Os cientistas defendem que é necessário “olhar para todas as regiões de África para compreender a evolução humana”, e resumem as suas conclusões numa expressão: “uma espécie, várias origens”.

Scerri aponta que utensílios de pedra e outros artefactos encontrados em vários locais e são de diferentes tempos. “Há uma tendência continental para uma cultura material mais sofisticada, mas esta ‘modernização’ claramente não tem origem numa região ou não ocorre num período de tempo”, afirma.

Eleanor Scerri / Francesco d’Errico / Christopher Henshilwood

Artefactos culturais encontrados em várias regiões de África

Quanto aos fósseis humanos, “quando olhamos para a morfologia dos ossos humanos nos últimos 300 mil anos, vemos uma complexa mistura de características arcaicas e modernas em diferentes locais e em diferentes tempos”, explica Chris Stringer, investigador no London Natural History Museum, que também participou no estudo.

Na análise genética, “é difícil conciliar os padrões genéticos que vemos nos africanos vivos e o DNA extraído dos ossos dos africanos que viveram nos últimos 10 mil anos com a existência de uma população humana ancestral”, explica ainda Mark Thomas, especialista nesta área e investigador na Universidade College London.

O estudo agora divulgado não põe em causa a teoria geralmente aceite de que após surgir como espécie distinta, o ‘Homo sapiens’ coexistiu durante bastante tempo com outras espécies de humanos, como o ‘Homo floresiensis’, o ‘Homo neanderthalensis’ ou o ‘Homo naledi’, que foram desaparecendo face à expansão da espécie humana atual.

2 Comments

  1. Pois é… Está quase para virem com uma teoria de que os brancos e os pretos são duas subespécies que evoluiram sem nunva se contactarem.

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