“Não são as presidenciais de 1986”. Hino do PS para as redes sociais é alvo de críticas

António Cotrim / Lusa

O secretário-geral do Partido Socialista (PS), Pedro Nuno Santos

Os socialistas estão a apostar numa nova forma de comunicação para as redes sociais, mas os especialistas não estão convencidos da sua eficácia.

O PS está a apostar numa nova estratégia para as redes sociais e apelar ao voto jovem, com o lançamento de um hino e uma banda desenhada no estilo anime gerada por inteligência artificial.

No entanto, as iniciativas têm sido alvo de críticas de especialistas de comunicação política, que consideram que as publicações do PS não estão a atingir o público alvo e mostram uma divisão geracional.

O hino, divulgado oficialmente no domingo, 5 de maio, mas já em circulação entre militantes, tem o refrão “O futuro é já, já, já” e acompanha um vídeo de dois minutos.

A escolha de um tema musical vocalizado contrasta com as campanhas anteriores do PS, habitualmente marcadas por temas instrumentais.

A ideia, segundo os responsáveis da campanha, é criar algo mais “dinâmico e contextualizado com os dias que correm”, avança uma fonte socialista ao Expresso.

Contudo, a receção foi mista. Luís Paixão Martins, antigo estratega das campanhas do PS nos tempos de Sócrates, ironizou sobre o vídeo. “É por cenas assim que fico ofendido quando me acusam de ser o cérebro da comunicação do PS”, brincou.

Já Ivone Ferreira, professora da Universidade Nova de Lisboa, questiona a eficácia do formato, apontando que vídeos longos dificilmente são consumidos nas redes sociais e que o hino seria mais eficaz na rádio ou televisão. “Estas não são as presidenciais de 1986”, aponta.

Os socialistas aproveitaram também a moda viral da banda desenhada gerada por IA, inspirada no estilo do Studio Ghibli. O partido criou uma tira que retrata um Portugal mergulhado no caos, com infraestruturas degradadas e cidadãos desesperançados, até que a protagonista encontra esperança nas propostas do PS.

Os especialistas apontam o uso de “storytelling distópico”, mais comum em campanhas negativas, apesar da intenção declarada de transmitir uma mensagem positiva. O uso de ilustrações geradas por IA em vez de contratar artistas gerou também polémica, com acusações de falta de apoio à economia criativa nacional.

Ivone Ferreira considera que os partidos que comunicam melhor nas redes sociais são o Chega e o Bloco de Esquerda. “Mariana Mortágua tem conseguido articular, em formatos curtos, uma linguagem visual apelativa com argumentação clara e forte presença digital. Já André Ventura aposta numa lógica de conflito permanente, com presença constante e estilo polarizador, que tem assegurado forte visibilidade nas redes”, defende.

A campanha do PS defende-se afirmando que “as críticas fazem parte” e que o foco está em comunicar com um eleitorado jovem nas plataformas onde o partido tinha presença fraca, como Instagram e TikTok.

ZAP //

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