/

Herói ou vilão – quem é afinal o “Polícia do Basket” em relação aos negros?

BasketballCop / Facebook

Bobby White, o “Polícia do Basket”

Bobby White foi chamado de “Polícia do Basket”, depois de milhões de pessoas terem visto um vídeo do agente a jogar basket com adolescentes. Contudo, nem tudo parece agora favorável ao polícia americano. Um outro vídeo de há dois anos mostra o herói a empurrar um jovem negro contra o capot do seu carro.

Tudo começou em 2016, em Gainesville, na Florida. Um vizinho de Aahtrell Johnson decidiu ligar para a polícia queixando-se do barulho que o jovem estava a fazer. A polícia foi chamado ao local, e Bobby White tornou-se o protagonista desta história.

Quando chegou ao local, White, percebeu que Johnson, um rapaz negro, de apenas 17 anos, estava a jogar basket. Porém, em vez de passar uma multa pelo barulho que incomodava os vizinhos, o polícia perguntou a Johnson se podia jogar com ele. A atitude fez com que alguns jovens vizinhos saíssem de casa e para jogar também.

Segundo o New York Times, White não se lembrou de que a câmara do seu painel estava a funcionar e acabou por gravar o momento. O vídeo, que depois foi partilhado pelo Departamento de Polícia, foi visto por milhões de pessoas.

White tornou-se num herói em Gainesville, e foi chamado de “Polícia do Basket”. O agente fundou uma organização sem fins lucrativos para facilitar as relações entre a polícia e os jovens negros, e foi convidado a participar no “Nightly News” da NBC e na ESPN para a promover.

“Não olhou para nós como se fossemos criminosos”, disse o jovem sobre o polícia. Para Jonhson, agora com 22 anos, a atitude de White foi marcante.

Contudo, esta história com um final feliz pode afinal ainda não ter tido um fim.

Chanae Jackson, uma corretora imobiliária de Gainesville, veio agora revelar outra faceta do famoso “Polícia do Basket”.

Depois de em 2018 o filho de Chanae ter tido um encontro problemático com a polícia, devido a uma acusação de excesso de velocidade, em maio deste ano alguém lhe enviou outro vídeo no qual White aparece a empurrar o adolescente contra o capot do seu carro. “Achei que eles iriam matá-lo”, disse Chanae.

Após as polémicas em torno da morte de George Floyd, que surgiram nos últimos meses nos EUA, Chanae decidiu partilhar o vídeo. “A cultura dos departamentos de polícia cria um ambiente onde não há consequências para esses polícias”, escreveu a mulher no Facebook.

Posteriormente, um juiz ilibou o filho de Chanae da acusação de excesso de velocidade, mas ainda assim a situação chamou a atenção da pequena cidade ativista.

Chanae Jackson sempre foi cética em relação à fama do “polícia do basket”, e à atenção que os media estavam a dar à Basketball Cop Foundation, fundação criada por White. “Assumo a responsabilidade por ser uma mulher negra com raiva, a mudança não acontece quando vivemos tempos de conforto”, diz a mulher.

White permanece no departamento de polícia, e recusou todos os pedidos de entrevistas para falar sobre o sucedido, fornecendo apenas uma cópia de uma investigação interna de 2015 que o inocentou de irregularidades.

Johnson, que ainda não tinha visto o mais recente vídeo, assume que “não ficaria surpreso se houvesse um vídeo de todos os polícias do mundo assim, é o que eles aprendem“, disse ao Times, desculpando a atitude de White. O rapaz descreve o polícia como uma figura paternal, sendo que até a ajudou a arranjar emprego.

Bobby White começou a sua carreira no Departamento de Polícia em 2008, pois identificava-se com algumas das lutas de muitos jovens negros da cidade. O polícia cresceu com a mãe solteira que morreu ainda jovem devido ao uso de drogas, e nunca teve um papel masculino na sua vida.

O polícia de Gainesville tem-se mostrado desde sempre um defensor das minorias, e condena todo o tipo de agressões por parte da classe policial. “Estou desagradado com as ações deste polícia. Estou irritado com os polícias que estavam no local que não o impediram”, referiu White sobre os acontecimentos em torno da morte de George Floyd

Precisamente a morte de Floyd marcou um ponto de viragem. Quem segue o trabalho de White, veio mesmo perguntar-lhe se a polícia tinha o hábito de maltratar deliberadamente os negros. White argumentou que não se tratava de um problema com os negros, e que a sua família branca era tratada da mesma forma que as famílias negras.

Após o assassinato em Minneapolis, ocorreram algumas manifestações contra as ações de White. Muitas pessoas questionam por que motivo mesmo depois de a polícia ter tido acesso ao vídeo da agressão de White, ainda seja possível que o agente tenha permissão para trabalhar com crianças.

O Departamento de Polícia divulgou um longo comunicado a explicar que investigou o vídeo da suposta agressão, e este não violava nenhuma política departamental.

Contudo, Chanae mostra-se insatisfeita com o destino dado ao polícia, e garante que no que depender dela vai continuar a sua luta para acabar com a violência policial junto dos negros. “Vou gravar tudo para que todos vejam que cada vez mais isto acontece”, diz num vídeo que partilhou nas suas redes sociais.

ZAP //

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.