“Herói de mochila” no ataque a parque infantil de Annecy não estava lá por acaso

Jean-Christophe Bott / EPA

Ataque a parque infantil de Annecy, França

Sírio de 34 anos esfaqueou 6 pessoas, incluindo 4 crianças, num parque infantil de Annecy, França.

O jovem francês que tentou travar o atacante que esfaqueou várias pessoas, incluindo quatro crianças, num parque infantil de Annecy, nos Alpes Franceses, é um estudante católico que acredita que não estava no local, naquele momento, por acaso.

Henri d’Anselme é o estudante católico de 24 anos que está a ser designado como o “herói de mochila” depois das imagens que foram divulgadas nas redes sociais do ataque feito por um cidadão sírio, munido com uma faca, num parque infantil de Annecy.

O jovem estudante usou duas mochilas, uma nas costas e outra segura pela mão, para tentar travar o atacante. As suas tentativas acabaram por impedir que voltasse a entrar no parque infantil, para esfaquear mais pessoas.

Agi instintivamente, não reflecti, para mim, seria impensável não fazer nada e agi como qualquer francês devia agir”, fazendo “o melhor para proteger os mais fracos“, conta Henri em declarações à imprensa francesa que são transcritas pelo jornal Le Figaro.

Henri estava em Annecy no âmbito da peregrinação a pé que está a fazer pelas catedrais de França, numa “busca pessoal e espiritual”, como relata.

Iniciou a sua aventura a 25 de Março passado e tinha acabado de chegar a Annecy. Acredita que “não estava lá por acaso” no seu “caminho das catedrais”. “Cruzei-me no caminho deste homem”, aponta.

“Ele também tentou atacar-me, os nossos olhares cruzaram-se, compreendi que alguma coisa de muito má o habitava”, refere ainda Henri.

“Tive receio pela minha vida, mas tive sobretudo medo pela vida dos outros”, aponta ainda o jovem que é licenciado em Filosofia.

“Penso nas vítimas, espero que estejam bem e que se safem. Tenho imagens atrozes na minha cabeça“, acrescenta, confessando que, inicialmente, chegou a acreditar que tudo não passava de um roubo.

Agora, vai continuar a sua jornada pelas catedrais e a partilhar a sua aventura nas redes sociais, como já vinha fazendo.

Duas crianças ainda correm risco de vida

Duas das quatro crianças feridas no ataque ainda “enfrentam risco de vida”, refere o porta-voz do Governo francês, Olivier Véran, à rádio pública France Info. Às duas foram realizadas intervenções cirúrgicas, ainda segundo a mesma fonte.

O Presidente francês, Emmanuel Macron, e a esposa já visitaram algumas das crianças hospitalizadas, nomeadamente dois primos de dois anos que estão na cirurgia pediátrica.

O ataque provocou uma avalancha de reacções no mundo político francês, com parlamentares de direita e de extrema-direita a destacarem a origem e o estatuto do agressor, um refugiado sírio de 31 anos.

Atacante gritou “Em nome de Jesus Cristo”

As motivações do agressor ainda não foram esclarecidas e o ataque não tem um “motivo terrorista aparente”, de acordo com a procuradoria francesa.

Abdelmasih H. já foi detido e submetido, nesta sexta-feira, a um exame psiquiátrico.

A TF1, televisão francesa, cita uma “fonte próxima do dossier” para notar que o suspeito apresentou um comportamento difícil durante a conversa com o psiquiatra, caindo da cadeira, “rolando no chão” e “gritando”.

Em alguns dos vídeos que circulam na internet, ouve-se o agressor a gritar “em nome de Jesus Cristo” enquanto realizava o ataque.

O atacante usava um crucifixo e entre os seus pertences estava um livro de orações. Declarou-se cristão quando pediu asilo.

Há dez anos obteve o estatuto de refugiado na Suécia, onde se casou com uma sueca, com quem tem um filho. Separaram-se no ano passado e o homem viajou para França depois de não ter conseguido obter a nacionalidade sueca.

Desde o final de 2022 está em França, onde pediu novamente asilo, mas não tem morada fixa. Terá chegado a ser sem-abrigo.

A resposta ao pedido de asilo, que foi negativa, chegou-lhe no passado domingo, ou seja, dias antes do ataque no parque em Annecy, como sublinham as autoridades francesas.

A mãe do atacante que mora nos EUA há cerca de 10 anos, está “em estado de choque” com o que aconteceu, conforme diz à TF1. Ela revela ao canal francês que o filho serviu no Exército sírio e que saiu do seu país em 2011, no início da guerra civil.

ZAP // Lusa

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