Todos temiam Henrique VIII. Mas antes da morte, foi o rei a temer um “castigo de Deus”

Stephanie Buck, Hans Holbein / Wikimedia

Henrique VIII e os Cirurgiões Barbeiros, quadro de Hans Holbein, o Jovem.

Uma nova investigação retrata Henrique VIII de forma muito diferente de como o rei é retratado pela História. Considerado o pior monarca da Inglaterra, há provas de que se terá sentido arrependido, tendo pedido a misericórdia de Deus nos seus últimos anos de vida.

Henrique VIII foi rei de Inglaterra de 1509 até à sua morte, em 1547. Conhecido como o fundador da Igreja Anglicana, foi o segundo monarca inglês da Casa de Tudor a ocupar o trono, sucedendo ao seu pai Henrique VII.

Responsável por dividir religiosamente o seu país e de ter executado impiedosamente os seus inimigos, incluindo duas das suas seis esposas, Henrique VIII é considerado o pior monarca da história da Inglaterra.

Embora tenha sido sempre retratado como um “monstro”, capaz das piores atrocidades, um novo estudo revela agora que, nos seus últimos anos de vida, o rei se sentia angustiado, vulnerável e ansioso.

As conclusões foram retiradas após a análise de um exemplar do livro “Salmos ou Orações” que apresenta algumas anotações do rei. As marcas mostram que a sua mente estava ocupada com pensamentos sobre “sofrimento físico, pecaminosidade, sabedoria divina e perdão de Deus“, à medida que a sua saúde ia deteriorando.

“Tendemos a pensar que Henrique VIII era muito confiante e exerceu a sua autoridade impunemente, mas nestas anotações em particular vemos traços de um monarca bastante ansioso“, disse Micheline White ao jornal britânico The Times.

O livro foi publicado anonimamente pela sua sexta e última mulher, Catherine Parr, em 1544, três anos antes da sua morte.


No livro, os investigadores encontraram as chamadas “manículas”, marcas manuscritas com a forma de uma mão com o dedo indicador estendido num gesto de apontar. As marcas são semelhantes às de outros livros que se sabe terem pertencido ao rei.

No exemplar, há oito manículas e três trevos – um padrão de três pontos, usado para marcar secções.

Uma das manículas foi desenhada ao lado de uma passagem onde se lê: “Afasta de mim as tuas pragas, porque o teu castigo me enfraqueceu e me fez desfalecer. Porque quando castigas um homem por causa dos seus pecados, fazes com que ele se consuma e definhe”.

Outra foi gravada pelo rei ao lado das palavras: “Afasta de mim a tua ira, para que eu saiba que és mais misericordioso para comigo do que os meus pecados merecem”.

Já um dos trevos marca o verso: “Ó Senhor Deus, não me abandones, embora eu não tenha feito nada de bom aos teus olhos”.

Segundo Micheline White, estas marcas evidenciam secções específicas que o rei queria ter em mente e “ressoam claramente com a terrível situação física de Henrique” a partir de 1544. O monarca, que era obeso, sofreu nos seus últimos anos de vida com dores de cabeça crónicas, úlceras nas pernas, gota e incapacidade física.

O artigo científico com as conclusões foi publicado recentemente na Renaissance Quarterly.

Liliana Malainho, ZAP //

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