Hama. Cidade síria com passado sombrio foi tomada (e pesa mais na guerra do que pensamos)

Um dos episódios mais violentos da história do Médio Oriente aconteceu há 40 anos e pode ter despoletado a atual guerra civil síria.

Foi um dos momentos mais negros da história moderna do mundo árabe, conta a ABC. Há mais de quatro décadas, Hafez al-Assad, na altura presidente da Síria, lançou o que veio a ser conhecido como o Massacre de Hama, nada mais nada menos que um ataque à cidade que fez entre 10 a 40 mil mortos.

Hama é a quarta maior cidade da Síria, tem um milhão de habitantes, é conhecida pelas suas pitorescas rodas de água, uma atração de referência ao longo das margens do rio Orontes. Foi esta quinta feira tomada pelos rebeldes, conta a BBC.

O ataque começou a 2 de fevereiro de 1982 e durou quase um mês, deixando a cidade em ruínas. Foi o próprio irmão de al-Assad, Rifaat,que liderou a unidade de artilharia, papel que lhe valeu a alcunha de “Carniceiro de Hama”. Foi só este anos que Rifaat foi acusado por crimes de guerra.

O massacre não escapou incólume na mente dos sírios. Anos mais tarde, quando o filho de Hafez al-Assat, Bashar al-Assad, atual presidente do país, subiu ao poder em 2011, Hama e as cidades vizinhas tornaram-se o epicentro de alguns dos maiores protestos contra o presidente, que originaram uma série de revoltas árabes, num período que ficou conhecido como Primavera Árabe.

Em agosto de 2012, as revoltas foram brutalmente silenciadas pelas forças governamentais do país, e o líder dos protestos foi morto mais tarde, acabando com a garganta cortada pelo governo.

E que influência podem ter estes episódios nos momentos atuais da guerra civil síria?

A revolta sentida em Hama tem um sabor especial. Numa mensagem de vídeo publicada esta quinta-feira a que a ABC teve acesso, Abu Mohammed al-Golani, o líder da insurreição síria, anunciou que os combatentes tinham chegado a Hama “para limpar a ferida que sangra há 40 anos”.

A cidade é ainda um lugar estratégico para a guerra, pelo que os rebeldes podem ter um grande interesse nela. Fica a cerca de 200 quilómetros a norte da capital, Damasco, sede do poder de Assad. A província de Hama também faz fronteira com a província costeira de Latakia, uma das principais bases de apoio popular a Assad.

A tomada da segunda principal cidade da Síria (e maior), Alepo, na semana passada, com o apoio da Rússia, que deu tempo às forças governamentais para prepararem as suas linhas de defesa, “vai absolutamente encorajar os inimigos de Assad e desencorajar os seus apoiantes”, diz o especialista Aron Lund.

De acordo com a BBC, um comandante rebelde disse esta semana aos residentes de Homs, a cidade mais a sul na autoestrada que liga Aleppo a Damasco: “chegou a vossa hora”.

“Se os rebeldes conseguirem tomar Homs, o que têm agora hipóteses de fazer depois de terem tomado Hama, podem teoricamente ter tomado” três das maiores cidades da Síria e separado a capital da costa, conclui.

ZAP //

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