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Há um misterioso “Banksy português”. Liratov em entrevista

Liratov / Instagram

Raposeiro, Viana do Castelo

Do avô, artista, Liratov acabou por herdar o gosto pela arte, a qual expôe pelas ruas do Alto Minho, na tentativa de preencher o “deserto” que diz existir na região.

Tudo começou com uma janela. Não tinha vista para uma paisagem deslumbrante ou inspiradora, pelo contrário. Estava partida, com os vidros pelo chão.

Mesmo assim, foi a vista que Liratov precisou para iniciar um projeto artístico que atualmente pode ser visto pelo Alto Minho e que preenche um desejo antigo.

O fascínio começou cedo e foi lhe transmitido pelo avô, que também pintava e desenhava, num verdadeiro elo de união entre os dois. “Foi ele que me ensinou as primeiras técnicas de desenho e pintura”, conta o artista em entrevista ao ZAP.

A aprendizagem fez-se em galerias e museus que visitou, mas também em conversas com artistas com quem se ia cruzando.

No entanto, a paixão acabaria por dar tréguas na adolescência e foi preciso uma estadia prolongada por terras de Sua Majestade para a reencontrar.

Nas ruas de Inglaterra, Liratov teve oportunidade de ver de perto o melhor do que se faz na arte urbana mundial. Quando voltou, percebeu que estava na altura de colocar mãos à obra.

Os azulejos foram, ao mesmo tempo, o ponto de partida e uma escolha óbvia. “Já os pintava, por isso decidi juntar as duas coisas. Pensei ‘por que não fazer isto com azulejos?’ Foi aí que se deu o clique.”

No que respeita ao processo criativo, garante que não há muita ciência. São as “vivências do dia-a-dia”, juntamente com uma boa dose de improviso – ou do “acaso” e “azar”, como lhe chama.

“Eu parto os azulejos e quando tenho os cacos à minha frente é que começo a criar as formas. Vejo um pedaço que me lembra uma cabeça de um animal, por exemplo. A partir daí construo o resto do corpo”, diz o artista minhoto.

Os materiais que usa são sobretudo azulejos que já não têm futuro nas lojas de construção por estarem danificados. Desta forma, está a contribuir para uma causa que também lhe diz muito, a da sustentabilidade.

Mas apesar de todo este processo parecer orgânico, requer uma veia criativa que está presente constantemente. “É como uma obsessão. Eu levanto-me e penso em criar. A minha cabeça está sempre a criar.”

Pelo estilo de arte que decidiu fazer – e como a exibe – as comparações com o artista britânico Banksy são recorrentes, mas não é por elas que trabalha.

Afinal de contas, sublinha, está focado em ser apenas “o Liratov do Alto Minho”, apesar de o desejo de expansão estar presente. Por agora, tenta preencher o que não entende ser uma lacuna, mas sim um “deserto” no que respeita à arte nesta zona do país.

“Não há arte urbana, ou há muito pouco. O que se faz é muito residual, esporádico. Como sou do Alto Minho, e tenho um grande apreço pela minha terra, gostava que isto acendesse a chama. Gostava de ver mais artistas a fazerem mais coisas.”

Apesar de ter escolhido um nome artístico, ainda que derivado do verdadeiro, e de preferir manter a sua identidade secreta, há por Monção quem saiba quem é Liratov e que as obras lhe pertencem.

Liratov / Instagram

Liratov, um poeta das paredes

As reações, assegura, são francamente positivas. “De certo modo, até me surpreendeu ter tantas reações boas. Mas fazermos coisas que depois as pessoas gostam e apreciam, contribuir para lhes alegrar o dia, dar-lhes um momento bom, essa é a maior satisfação.”

Muito do feedback que recebe chega pelo Instagram, rede social que faz questão de atualizar com frequência para chegar a paredes de outras latitudes. É isso que almeja. “Gostaria de continuar a evoluir e fazer mais coisas, a expandir. Internacionalizar-me, se fosse possível. Não quero parar por aqui.”

Ana Rita Moutinho, ZAP //

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