Há pessoas mais “visuais” do que outras. Porquê?

Por que é que algumas pessoas conseguem visualizar cenários na sua mente, com cores e detalhes, e outras não?

Imagine que está na final do Mundial de futebol e o jogo acaba empatado. Portugal e Brasil seguem para penáltis. O Santiago Bernabéu está ao rubro. Cristiano Ronaldo vai marcar o primeiro penálti.

Ao imaginar esta cena, consegue imaginar o cenário com cores e detalhes?

Como escreve o The Conversation, a comunidade científica está há anos a trabalhar para tentar perceber porque é que algumas pessoas conseguem visualizar este tipo de cenários mais facilmente do que outras. Até a mesma pessoa pode ser melhor ou pior a imaginar coisas na sua mente em alturas diferentes.

O cérebro e a imagética mental

A imagética mental é a capacidade de visualizar coisas e cenários na sua mente, sem qualquer contacto físico real.

Por exemplo, quando pensa nos seus melhores amigos, pode imaginar automaticamente os seus rostos na sua cabeça sem os ver realmente à sua frente; ou quando pensa nas próximas férias, pode ver-se numa praia solarenga.

As pessoas que sonham em marcar um penálti podem visualizar-se como se estivessem a ver um vídeo na sua mente. Podem até mesmo sentir o cheiro do relvado ou ouvir os sons que os adeptos fazem.

Os cientistas acreditam que o córtex visual primário, localizado na parte de trás do cérebro, está envolvido nessa visualização interna. Essa é a mesma parte do cérebro que processa a informação visual dos olhos e que nos permite ver o mundo à nossa volta.

Outra região do cérebro, localizada na parte frontal do cérebro, também contribui para a visualização mental. Esta estrutura, denominada córtex pré-frontal, é responsável pelas funções executivas – um grupo de capacidades mentais de alto nível que lhe permitem concentrar-se, planear, organizar e raciocinar.

Os cientistas descobriram que essas capacidades estão, pelo menos em certa medida, relacionadas com a capacidade de criação de imagens mentais. Se alguém é bom a reter e a manipular grandes quantidades de informação na mente, essa pessoa pode brincar com coisas como números ou imagens na sua mente em movimento.

Experimentar e recordar

A maior parte das mesmas áreas cerebrais estão ativas tanto quando estamos a viver um acontecimento como quando o visualizamos a partir de uma memória na nossa cabeça.

Por exemplo, quando se contempla a beleza da Ribeira do Porto, o cérebro cria uma memória da imagem. Mas essa memória não está simplesmente armazenada num único local do cérebro. É criada quando milhares de células cerebrais em diferentes partes do cérebro disparam em conjunto.

Mais tarde, quando um som, um cheiro ou uma imagem desencadeia a memória, esta rede de células cerebrais dispara novamente, e pode imaginar a Ribeira do Porto na sua cabeça tão claramente como se estivesse à sua frente.

Benefícios da visualização mental

A capacidade de visualizar mentalmente pode ser útil.

Repare no olhar de concentração no rosto e Ronaldo a bater um penálti. É provável que o capitão da seleção esteja a visualizar-se a executar o penálti ideal na sua mente.

Esta visualização ativa as mesmas regiões cerebrais de momentos em que marcou outros penáltis, aumentando a confiança e preparando o cérebro.

Os atletas podem utilizar a visualização para os ajudar a adquirir competências mais rapidamente e com menos desgaste para o seu corpo.

Os engenheiros e mecânicos podem utilizar a visualização, por exemplo, para os ajudar a reparar ou projetar coisas. A visualização mental também pode ajudar as pessoas a reaprender mais rápido a mover o corpo após uma lesão cerebral.

Interações natureza-natureza

Nem tudo está perdido se tiver dificuldade em visualizar.

É possível que a capacidade de visualizar na sua mente seja um efeito combinado do funcionamento do seu cérebro individual e das suas experiências de vida.

Ver outra pessoa a realizar uma ação física ativa as mesmas áreas cerebrais que criam as suas próprias imagens mentais internas.

Se quisermos ser capazes de fazer algo, ver um vídeo de outra pessoa a fazê-lo pode ser tão útil como visualizarmo-nos a nós próprios a fazê-lo na nossa cabeça.

Por isso, mesmo que tenha dificuldades com a visualização mental, ainda há formas de colher os seus benefícios.

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