Um estudo descobriu que, à medida que envelhecemos, a corrente sanguínea pode ganhar um novo visitante: partículas semelhantes a ossos. A descoberta pode ajudar a explicar os problemas que afetam o sistema cardiovascular.
Sabe-se há muito tempo que, às vezes, tecido dentro do corpo humano pode começar a assemelhar-se ao osso. Isto acontece devido ao processo de calcificação – a acumulação de sais de cálcio no tecido. Esta acumulação pode apresentar-se como cálculos biliares ou pedras nos rins, tornar-se em esporões ósseos ou até acabar noutras partes do corpo.
Por vezes, esta acumulação de minerais pode acontecer nos vasos sanguíneos, levando à calcificação vascular. Este processo está associado ao envelhecimento, mas também pode estar relacionado com diabetes, hipertensão ou doença renal.
Apesar de saberem que a calcificação vascular acontece, os investigadores ainda não têm uma imagem completa dos processos dentro do sangue que levam à acumulação de de minerais nas paredes das veias sanguíneas.
Nesta última investigação, cientistas liderados por Rhonda Prisby, professora de cinesiologia – a ciência que analisa os movimentos humanos – na Universidade do Texas, registaram a presença de estranhas partículas semelhantes a ossos que poderiam ter alguma culpa na doença vascular. “A principal descoberta desta investigação é a descoberta de partículas semelhantes a ossos na circulação periférica de humanos e ratos”, escreveu a equipa no artigo publicado na revista especializada Microcirculation.
Num estudo anterior de Prisby, publicado em julho de 2014 na revista especializada Bone, a investigadora caraterizou calcificação severa nos vasos sanguíneos encontrados na medula óssea, indicando que, tanto em amostras de ratos como em pacientes humanos, esses vasos pareciam ter-se tornado ósseos ou ossificados. A investigação também indicou a presença de partículas semelhantes a ossos naqueles vasos sanguíneos ossificados.
Assim, neste estudo mais recente, os investigadores exploraram mais para perceber se estas partículas poderiam mover-se da medula óssea para a circulação periférica.
“Presumivelmente, partículas ossificadas originam-se durante os processos de ossificação da medula óssea e são capazes de entrar na circulação periférica”, escreveu a equipa, de acordo com um comunicado divulgado pela Universidade do Texas. “Assim, além de examinar os vasos sanguíneos ósseos ossificados através da microscopia ultra-alta, procuramos confirmar, caracterizar e quantificar a presença de partículas ossificadas em amostras de sangue total periférico de humanos e ratos”.
Embora os cientistas tenham usado apenas um pequeno número de amostras humanas – incluindo vasos de medula óssea numa tíbia proveniente de uma perna amputada e amostras de sangue de 12 voluntários – os resultados são interessantes e preocupantes.
“Enquanto a maioria das partículas ossificadas eram pequenas em diâmetro (<15 μm), um número significativo tinha tamanho suficiente (> 15 μm) para bloquear pequenos vasos sanguíneos em toda a árvore vascular”, explicaram os investigadores.
Embora o número de partículas ossificadas não pareça aumentar com a idade do paciente, o tamanho aumentou. Os seis pacientes mais jovens tinham partículas que variam em tamanho de 1 a 29 μm, enquanto as partículas dos seis pacientes mais velhos variavam de 1 a 66 μm.
A equipa investigou o tamanho dessas partículas em ratos, mas descobriu que não havia mudanças significativas por idade, embora houvesse uma limitação em conseguir discernir partículas semelhantes a ossos das minúsculas células sanguíneas – plaquetas.
“Investigações futuras exigirão a eliminação de plaquetas da amostra de sangue total, a fim de decifrar os aumentos relacionados com a idade no número de [partículas semelhantes a ossos]”, observou a equipa, acrescentando a importância de tamanhos maiores de amostra para investigar mais detalhadamente este fenómeno.
O aspeto mais importante destas partículas pode ser a sua forma – uma potencial pista sobre a forma como a sua circulação no sangue pode contribuir para o desenvolvimento de problemas cardiovasculares.
“Algumas partículas ossificadas têm pontas e bordas afiadas que podem danificar o revestimento dos vasos sanguíneos”, disse Prisby. “Este dano pode iniciar eventos que levam à aterosclerose (acumulação de placa), o que pode restringir o fluxo sanguíneo ao longo do tempo”.
A descoberta destas partículas poderia ajudar os médicos a detetar e a tratar condições potencialmente fatais.