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Há em Angola uma cidade que nasceu do nada e onde não há desemprego

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A construção do complexo AH-Laúca, no rio Kwanza, em Angola, está a cargo da brasileira Odebrecht

A construção do complexo AH-Laúca, no rio Kwanza, em Angola, está a cargo da brasileira Odebrecht

A construção do Aproveitamento Hidroelétrico (AH) de Laúca, no rio Kwanza, a cargo da brasileira Odebrecht e com o apoio de dezenas de empresas subcontratadas, arrancou há dois anos e 5.700 trabalhadores residem hoje na nova cidade, erguida na margem direita para apoiar o gigantesco estaleiro e onde nada existia antes.

“É uma verdadeira cidade, que pulsa todos os dias, construída de raiz para alojar os trabalhadores e dar qualidade de vida”, explicou à Lusa o gerente administrativo e financeiro do projeto AH Laúca.

Os trabalhadores angolanos são oriundos de todo o país e o brasileiro Claudionor Lopes admite que, apesar de poderem regressar com maior regularidade a casa, estes até preferem permanecer em Laúca nas folgas “pelas condições oferecidas”, do alojamento às refeições.

Utilizada apenas para apoiar a obra, Laúca é assim uma cidade com taxa zero de desemprego, como se conta, em tom de brincadeira, na barragem.

Além do alojamento individual para os trabalhadores que vivem na cidade, sete dias por semana, dos quais nove por cento são expatriados sobretudo brasileiros e portugueses, Laúca fornece alguns serviços para os contratados na comunidade envolvente e que regressam a casa diariamente.

Com 7.100 trabalhadores, a gigantesca barragem será uma das maiores de África e teve de criar condições de autonomia, devido à dificuldade de acessos, distância e quantidade de pessoas que ali vivem durante longos períodos de tempo.

Auto-suficiente em algumas necessidades básicas, a cidade precisa no entanto ainda, por exemplo, de 70.000 litros de gasóleo para funcionar, todos os dias.

© Antonio Rodrigues Peyneau / Panoramio

AH-Laúca, Rio Kwanza, Angola

O complexo AH-Laúca, na barragem do rio Kwanza, Angola

Com 125 lugares e três sessões de por semana, o cinema de Laúca é um dos espaços de lazer mais procurados e os bilhetes, gratuitos, esgotam logo na primeira hora, conta Adriano Paiva, o angolano responsável pela área de lazer da cidade.

“Como é uma obra com mais trabalhadores do sexo masculino, eles querem mais filmes de ação. Estamos muito longe de casa e isto faz-nos sentir melhor”, diz Adriano, que trata da programação do cinema, depois de uma carreira de futebolista em Portugal, em clubes como Santa Clara ou Leixões.

Não faltam salas com jogos de vídeo e internet, campos de ténis, três ginásios, espaços para a prática de basquetebol e andebol, mas acaba por ser o futebol o destaque, com um campeonato entre equipas das várias secções da obra, movimentando perto de 1.000 trabalhadores da cidade.

“O futebol aqui é uma loucura, temos sempre os campos cheios à noite, com o Gira Laúca, que é uma réplica do campeonato angolano Girabola, também com 16 equipas, e a Taça Laúca”, explica Adriano Paiva.

A final da taça da cidade disputa-se a 11 de novembro, tal como por norma a Taça de Angola, quando se comemoram os 40 anos da independência do país, opondo nesta primeira edição as equipas do “Controlo de Qualidade” e de “Topografia”.

Pela “Qualidade” joga Jorge Vicente, de 22 anos, que assume “confiança” na vitória na taça. Chega a ficar dois meses sem ir a casa, em Luanda, mas garante que vive numa “cidade a sério”, onde não faltam restaurantes, um banco, supermercado, cabeleireiros e até uma rádio própria.

“Para quem está aqui a trabalhar nada melhor do que vir para o campo dar uma corrida no fim do dia”, diz Vicente.

Uma das áreas mais complexas da cidade é a alimentação, também sem custos para os trabalhadores, que funciona 24 horas por dia.

São servidas mais 23.000 refeições e processados até sete toneladas de carne por dia, por uma equipa de 240 pessoas e onde o bacalhau português também não falta na ementa.

“Em dois anos foram servidas quase 10 milhões de refeições sem qualquer intoxicação ou problema alimentar. Isso é muito importante porque em caso de problema é a obra que para”, explica o brasileiro Vanderson Cozer, responsável pela área alimentar.

Há também um hospital no interior, com 56 profissionais, entre médicos, enfermeiros e técnicos, e que recebe cerca de 150 pacientes por dia nas várias especialidades, inclusive internamento.

“Normalmente são problemas simples, algumas dores de cabeça e músculos. Mas também tratamos, sempre que necessário as pessoas da comunidade, das aldeias fora da cidade”, sublinha o médico angolano Nicolau Finda.

Construída pela Odebrecht, a cidade, tal como a barragem, é propriedade do Estado angolano, não sendo ainda conhecido o destino que terá depois de 2017.

/Lusa

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