Enquanto a Rússia afirma que pode desligar a central nuclear ucraniana, a Ucrânia alerta que isso iria aumentar o risco de um desastre nuclear.
António Guterres, secretário-geral da ONU, mostrou uma “profunda preocupação” esta quinta-feira, para com a situação na central nuclear ucraniana de Zaporijjia.
A central nuclear é a maior da Europa, e encontra-se controlada por forças russas. O secretário-geral pediu a sua desmilitarização, defendendo que não devia haver quaisquer soldados ou equipamento militar nas instalações.
A Rússia já tinha recusado um pedido de desmilitarização da central, considerando-o “inaceitável”. A Ucrânia acusa a Rússia de usar a central como escudo para lançar ataques contra outros alvos no país.
“A central não deve ser usada como parte de qualquer operação militar”, advertiu Guterres, depois de se encontrar com Volodymyr Zelenskyy, em Lviv.
“Em vez disso, é preciso com urgência um acordo para restabelecer a infraestrutura puramente civil de Zaporijjia e garantir a segurança da zona”, acrescentou.
O presidente ucraniano informou que acordou com o secretário-geral da ONU “as condições de uma missão possível da AIEA [Agência Internacional de Energia Atómica] à central de Zaporijjia, de um modo legal, através de território que não está ocupado”, embora não fosse claro como.
No entanto, Guterres sublinhou que, para ser realizada uma inspeção, é necessário um acordo com a Rússia, uma vez a central está sob ocupação de Moscovo.
“A Rússia deve retirar as suas forças de imediato e sem condições, e parar quaisquer provocações e ataques”, apelou Zelensky. O secretário-geral da ONU declarou que qualquer dano provocado nas instalações seria “suicídio”.
A Rússia já revelou que poderia encerrar a central, uma situação que, segundo a autoridade de energia atómica da Ucrânia, tem vários riscos.
Ao desligar os geradores da central, deixam de ser uma alternativa para manter o arrefecimento do combustível nuclear, caso haja uma falha de energia, aumentando o risco de “um desastre nuclear na maior central de energia atómica da Europa”.
Zelenskyy acusou a Rússia de fazer “chantagem nuclear” e de Zaporijjia poder vir a ser o palco de um “ato de terror da parte do agressor que pode ter consequências catastróficas para o mundo inteiro”, segundo o Público.
“Não excluímos a possibilidade de enormes provocações russas no território da central amanhã [sexta-feira]. Isso é confirmado pela sua propaganda, por informação das nossas fontes, e pelo comportamento dos russos na central”, declarou uma fonte à estação de televisão norte-americana NBC.
A Ucrânia já tinha avisado que a Rússia estava a preparar um incidente na central. A espionagem ucraniana informou que os trabalhadores tinham sido avisados para não irem à central na sexta-feira.
Na quinta-feira, o Ministério da Defesa da Rússia acusou a Ucrânia e os EUA de tentarem encenar um “incidente menor” na central, para culparem Moscovo.