2023 pode começar com três novas guerras

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Kosovo “à beira” de um novo conflito, Moldávia teme ser o novo alvo de Vladimir Putin e guerra civil à vista no Peru.

guerra na Ucrânia marcou praticamente todo o ano 2022, que está quase a terminar. Mas 2023 pode ser pior, logo a partir dos primeiros meses.

Primeiro, a guerra na Ucrânia não acabou. Nem parece próxima do seu fim, pelo menos a curto prazo.

Segundo, porque há três guerras que, todas elas, parecem próximas de estar quase a começar.

Kosovo

Nesta segunda-feira a primeira-ministra da Sérvia, Ana Brnabić, avisou: o Kosovo “está à beira de um conflito armado”.

“Receio uma escalada. Faremos tudo para preservar a paz e a estabilidade que seja possível garantir mas, lamentavelmente, não vejo que exista qualquer estabilidade para os sérvios do Kosovo”

A primeira-ministra considera que o Governo do Kosovo viola sistematicamente os direitos humanos da minoria sérvia do país, e a União Europeia e os Estados Unidos da América e ignorarem a situação.

Os sérvios kosovares pedem “respeito por direitos básicos” e sentem-se vítimas de ““brutais violações” dos acordos internacionais e humanitárias. Por isso, desencadearam novos protestos; ergueram barricadas e bloquearem estradas no norte do país.

Peru

O Peru está em estado de emergência. O país sul-americano atravessa uma crise institucional e social: o presidente “caiu” e têm-se multiplicado as manifestações com cenas de violência e vandalismo.

Pedro Castillo ainda era presidente quando anunciou a dissolução do parlamento e a criação de um executivo de emergência, que governaria por decreto – uma tentativa de golpe de Estado, reagiu o Congresso.

O Congresso depôs Castillo, que foi substituído por Dina Boluarte, que era vice-presidente e que passou a ser a primeira mulher a liderar o país.

Dina é responsável por criar o novo executivo. Já demitiu o então primeiro-ministro Pedro Angulo (que ocupou o cargo durante 10 dias).

Mas esta mudança originou muitos protestos populares. Mais de 20 pessoas já morreram e quase 100 estão hospitalizadas devido às manifestações violentas.

Há, ou houve, recolher nocturno obrigatório em 16 províncias do país. Há liberdades e direitos constitucionais suspensos, devido ao estado de emergência.

Estes protestos reforçam a evidente diferença de classes enraizadas que há no Peru: de um lado as elites brancas, que vivem no litoral e perto da capital Lima; do outro lado os camponeses, a miscigenação, as etnias locais, que vivem no interior.

 

Andrés Malamud explicou na rádio Observador que quem está a protestar na ruas são sobretudo camponeses, pobres, pessoas do interior. “As elites estão satisfeitas porque já não têm Pedro Castillo como presidente”.

O investigador no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa fez uma descrição de Pedro Castillo, agora ex-presidente.

“É um professor de zona rural, periférica. É conservador: anti-gay, anti-feminista, anti-aborto; mas supostamente é ideologicamente muito de esquerda, muito marxista”, começou por analisar.
“É uma coisa estranha, inconsistente: ele defende os valores de uma direita conservadora e, ao mesmo tempo, um projecto de esquerda revolucionária. Tudo isto sem discurso coerente, ele é um político com intelectualidade muito baixa”, descreveu.

E, por causa dessas características, a elite de Lima “desprezava-no porque ele era popular, mas também porque era burro”.

O especialista em assuntos da América latina vê uma guerra civil com algo “improvável” porque não há duas organizações armadas, dois bandos organizados.

No entanto, há uma guerra a acontecer nas ruas: “Violência inorgânica, anárquica, caótica é muito provável. É o que já estamos a ver. Vazio governamental, caos, anarquia”.

O Peru, tal como outros países sul-americanos, tem problemas sócio-económicos graves: 25% da população é pobre, a corrupção mancha o país e já diversos ex-presidentes foram detidos, nos últimos anos.

Moldávia

Na Moldávia já se espera uma invasão das forças armadas da Rússia, tal como aconteceu na Ucrânia há pouco menos de um ano.

O chefe dos Serviços de Informações e Segurança da Moldávia, Alexandru Musteata, deixou o aviso real: “A pergunta não é se a Rússia lançará uma ofensiva em direção ao território moldavo, mas sim quando é que isso acontecerá”.

A Rússia poderá mesmo invadir a Moldávia (embora haja comentadores que admitam essa possibilidade, mas a logo prazo) e Alexandru Musteata prevê que o território moldavo funcione como um “corredor terrestre” até à Transnístria, para o exército russo.

O ambiente é tenso. Nos três casos.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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