Abir Sultan/EPA

Uma luta de classes, cultural e religiosa. Netanyahu sabe que o país enfrenta dificuldades – e recuou numa decisão que colocou (mais) pessoas na rua.
Há mais de um ano que vemos notícias sobre a guerra na Ucrânia, compreensivelmente, todos os dias.
Mas há outros cenários preocupantes, noutros países. Como na Somália, ou em Israel.
Protestos internos, conflito com Hamas, complicações no Governo… Israel passa por diversas e sérias dificuldades. E o seu primeiro-ministro sabe disso.
Benjamin Netanyahu passou a ser o alvo de (ainda) mais pessoas nas últimas duas semanas, quando anunciou a saída do ministro da Defesa, Yoav Galant.
Isto num país dividido por causa da reforma judicial. Só no fim-de-semana terão estado quase 150 mil pessoas na capital Tel Aviv.
Em causa estão as anulações de decisões de tribunais por parte do Parlamento mesmo com maioria simples, alterações na nomeação de juízes, a possibilidade de ministros terem controlo total para escolher e demitir conselheiros, limitar os vetos dos tribunais nas decisões do Governo, entre outras propostas.
O Governo acredita que já houve demasiados casos em que o Supremo Tribunal de Justiça se intrometeu demasiado em assuntos políticos.
Tantos protestos e a ameaça de um país paralisado fizeram Netanyahu recuar: suspendeu temporariamente o seu plano de reforma judicial e, na noite passada, anunciou que afinal Yoav Galant vai continuar a ser ministro da Defesa.
Quando falou sobre reforma judicial, o primeiro-ministro foi directo e dramático: está iminente uma guerra civil, uma divisão em Israel. Na prática estamos perante uma “quase guerra civil” no país, escreve o Bild.
O jornal alemão sublinha que, para os manifestantes, o fim da separação de poderes em Israel é uma ameaça à democracia.
No entanto, há o outro lado das manifestações: aqueles que defendem de forma acérrima as ideias de Benjamin Netanyahu.
Os israelitas, homens e mulheres, que têm aparência europeia defendem o Supremo Tribunal de Justiça; estão contra a limitação dos seus poderes.
Os israelitas, sobretudo homens, mais orientais e religiosos defendem que quem manda é o Governo.
Os israelitas europeus (Ashkenazi) são “os de lá de cima” – educados, ricos, trabalhadores administrativos.
Os israelitas orientais são “os de lá de baixo” – menos educados e muitas vezes pobres, que trabalham duro e são mais religiosos que os Ashkenazi. E estarão a receber dinheiro do Estado, que por sua vez recebe dos Ashkenazi.
A quase guerra civil em Israel é basicamente uma luta de classes, cultural e religiosa, resumem os alemães.
O primeiro-ministro anunciou agora que vai criar “espaço de diálogo”.