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Guerra Anglo-Zanzibari. O conflito mais curto da História durou apenas 38 minutos

A abolição da escravatura esteve no centro da guerra mais curta da História, que opôs os britânicos ao Sultanato de Zanzibar.

Muitas das guerras mais conhecidas de todos nós arrastaram-se durante décadas e algumas até durante séculos e muitas das preocupações com os conflitos que estão agora a devastar o mundo, como entre a Ucrânia e a Rússia, prendem-se com a possibilidade dos combates se arrastarem no tempo.

Mas afinal, qual é a guerra que está do outro lado da moeda e foi a mais curta de sempre? A resposta está no conflito Anglo-Zanzibari, que colocou frente a frente o Reino Unido e o Sultanato de Zanzibar. A guerra durou menos do que metade de um jogo de futebol, tendo apenas 38 minutos separado o seu início e o seu fim.

A origem da tensão entre as duas partes data de 1890, numa altura em que as potências ocidentais dividiam o mundo entre si e colonizavam-no sem pudores. Foi neste ano que foi assinado o Tratado de Heligolândia–Zanzibar, entre o Reino Unido e a Alemanha, que dava controlo aos alemães sobre o território da actual Tanzânia, enquanto que os britânicos ficavam com Zanzibar.

Um dos planos que o Reino Unido tinha para o território era a abolição da escravatura. Apesar da oposição à escravatura ser uma posição consensual nos dias de hoje, na altura a sua abolição ia mexer com os lucros de muitas figuras importantes da elite de Zanzibar e inspirou a resistência do Sultão Sayyid Ali ibn Saʿid, que não cumpriu as ordens de Londres.

Tal como os estados da Confederação se revoltaram contra a União e deram início à Guerra Civil dos Estados Unidos devido à abolição da escravatura, esta questão foi também a lenha que alimentou o conflito mais curto da história.

A morte de Sayyid Ali ibn Saʿid deu a oportunidade aos britânicos de apontarem um sucessor que lhes fosse mais favorável, e a escolha recaiu sobre Hamad bin Thuwaini. Esta escolha acabou por ser a faísca que acendeu a guerra.

Wikimedia

Khalid bin Barghash

A 25 de Agosto de 1896, Hamad morreu subitamente no seu palácio, com suspeitas de que o seu primo, o príncipe Khalid bin Barghash, terá estado por trás da morte e ordenado o seu envenenamento. Apenas algumas horas depois da morte de Hamad, Khalid bin Barghash assumiu a posição de Sultão e mudou-se para o palácio.

Ao contrário do seu primo, que era submisso às ordens do império britânico, Khalid era um símbolo da resistência da região ao poderio europeu e 3000 mil soldados que lhe eram leais juntaram-se a si no palácio, relata o Ancient Origins.

Londres fez um ultimato e ordenou que o novo Sultão cedesse o trono ao seu outro primo, Hamoud bin Muhammed, e como uma demonstração de força, enviou 900 soldados e cinco navios para o porto, que ficava próximo do palácio. Caso Khalid não cumprisse as ordens, o Reino Unido partiria para a guerra.

O Sultão acreditou que os britânicos estavam apenas no bluff e não cedeu às suas exigências. A 27 de Agosto de 1896, às nove da manhã, as forças britânicas atacaram o palácio, que rapidamente se incendiou.

Apenas 38 minutos depois, a resistência de Zanzibar foi derrotada e os soldados do Sultão foram derrotados. Nessa mesma tarde, Hamoud bin Muhammed foi escolhido para ser o novo líder da região. A escravatura foi abolida em Zanzibar em 1897.

Já Khalid conseguiu escapar do palácio e refugiar-se no consulado alemão. Os alemães ajudaram-no a sair do país, mas o ex-Sultão acabou por ser capturado pelo Reino Unido durante a Primeira Guerra Mundial, em 1916. Depois de renunciar a sua reivindicação ao trono, Khalid recebeu uma autorização para viver em Mombasa,  no Quénia, onde morreu em 1927.

Adriana Peixoto, ZAP //

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