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As grandes pandemias não são assim tão raras como se pensa

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Mário Cruz / Lusa

A covid-19 pode ter sido a pandemia mais mortal a que o mundo assistiu em mais de cem anos. Mas, estatisticamente, estes eventos extremos não são tão raros como se pensa.

Segundo o site EurekAlert!, uma equipa de cientistas descobriu que a probabilidade de acontecer uma pandemia com um impacto semelhante à da covid-19 é de cerca de 2% em qualquer ano, o que significa que alguém nascido no ano 2000 teria cerca de 38% de probabilidade de experienciar uma agora.

“A conclusão mais importante é que grandes pandemias, como a da covid-19 e a da gripe espanhola, são relativamente prováveis”, afirmou William Pan, professor associado de Saúde Ambiental Global na Universidade Duke e um dos autores do artigo publicado, a 23 de agosto, na revista científica PNAS.

A pesquisa usou novos métodos estatísticos para medir a escala e a frequência dos surtos de doenças para os quais não houve intervenção médica imediata nos últimos 400 anos.

A análise, que cobriu doenças como a peste, varíola, cólera, tifo e novos vírus da gripe, encontrou uma variabilidade considerável na taxa de ocorrência de pandemias no passado. Mas os investigadores também identificaram padrões que lhes permitiram descrever as probabilidades de eventos de uma escala semelhante acontecerem novamente.

No caso da pandemia mais mortal da história moderna – a gripe espanhola, que matou mais de 30 milhões de pessoas entre 1918 e 1920 – a probabilidade de ocorrer uma pandemia de magnitude semelhante variou de 0,3% a 1,9% por ano durante o período estudado.

Ou seja, como escreve o mesmo site, vistos de outra forma, estes números significam que é estatisticamente provável que uma pandemia de tal escala ocorra nos próximos 400 anos.

Além disso, os dados também mostraram que o risco de surtos intensos está a crescer rapidamente. Com base na taxa crescente de como novos patógenos, como o SARS-CoV-2, se espalharam entre populações nos últimos 50 anos, o estudo estima que a probabilidade de novos surtos de doenças provavelmente triplicará nas próximas décadas.

A equipa estimou que uma pandemia semelhante em escala à da covid-19 é provável dentro de um período de 59 anos, um resultado que, destacaram, é “muito mais baixo do que o intuitivamente esperado”.

Embora não esteja incluída no estudo, os cientistas também calcularam a probabilidade de uma pandemia que fosse capaz de eliminar toda a vida humana, percebendo que poderia ser estatisticamente provável nos próximos 12 mil anos.

Enquanto cientista de saúde ambiental, Pan pode especular sobre as razões pelas quais estes surtos se estão a tornar mais frequentes, tendo observado que o crescimento populacional, as mudanças nos sistemas alimentares, a degradação ambiental e o contacto mais frequente entre humanos e animais que abrigam doenças podem ser fatores significativos.

ZAP //

2 Comments

  1. O mundo assistiu a outra pandemia muito mais mortal do que a covid e que continua a matar: estou a falar da SIDA. No total, estima-se que tenham morrido mais de 34 milhões de pessoas e ainda não há cura nem vacina.

    • Caro leitor,
      Obrigado pelo seu pertinente comentário.
      Na realidade, há alguns anos que são usados tratamentos baseados em cocktails de antivirais que conseguem reduzir significativamente a letalidade da SIDA, ao ponto de a comunidade científica ter começado a considerá-la (e lidar com a SIDA) como uma doença crónica.
      Além disso, alguns avanços recentes parecem indicar que poderá haver vacinas contra o HIV — como é o caso da vacina desenvolvida em Itália, de que demos notícia há 2 anos, que conseguiu reduzir em 90% a “reserva” de vírus latente em pacientes contaminados com o VIH.

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