O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, esclareceu que a alegada nacionalidade portuguesa do homem que pilotava o avião abatido esta terça-feira no sul de Tripoli, Líbia, é uma informação que não está confirmada.
“Este facto ainda não está confirmado”, respondeu o chefe da diplomacia portuguesa, quando questionado pela agência Lusa em São José, capital da Costa Rica, sobre o caso deste piloto detido pelas forças leais ao marechal Khalida Haftar (Exército Nacional Líbio), segundo as quais declarou ser de origem portuguesa.
Santos Silva encontra-se na capital costa-riquenha no âmbito da terceira reunião ministerial do Grupo de Contacto Internacional para a Venezuela.
“As informações disponíveis são as que são públicas. (…) Em primeiro lugar, que foi abatido um caça Mirage que estaria ao serviço, uns dizem da Operação Sophia, outros dizem do Governo de Unidade Nacional da Líbia.
“A possibilidade de estar ao serviço da Operação Sophia já foi negada pelas autoridades de Bruxelas. Que o piloto que foi capturado está vivo e que declarou ser de nacionalidade portuguesa. Este facto ainda não está confirmado”, afirmou.
“Já houve a confirmação oficial, aliás óbvia, quer do Ministério da Defesa Nacional quer do Estado-Maior-General das Forças Armadas portuguesas, que não há nenhum piloto da Força Aérea Portuguesa envolvido em qualquer operação militar na Líbia”, concluiu.
O canal Al Arabiya divulgou uma informação atribuída ao Exército Nacional Líbio em que este informava que um avião abatido no sul de Tripoli pertencia à Operação Sophia e garantia que devolveria imediatamente o piloto, de origem portuguesa.
Inicialmente, numa outra versão divulgada pela agência turca Anadolu, o ENL, as forças leais ao marechal Khalida Haftar, começaram por atribuir o avião às forças do Governo de Unidade Nacional da Líbia, reconhecido pelas Nações Unidas, tendo capturado o piloto.
A Operação Sophia, missão da UE para combater o tráfico de migrantes no Mediterrâneo, negou, entretanto, que estivesse ao seu serviço o avião abatido na Líbia, desmentindo o Exército Nacional Líbio. “Nenhum avião da (Operação) Sophia foi abatido (hoje na Líbia)”, disse à Lusa Antonello de Renzis Sonnino, porta-voz daquela organização europeia, numa mensagem enviada a partir da sede, em Roma.
A televisão saudita Al Arabiya noticiou que o grupo militar tinha declarado que a detenção foi “erro” e que o piloto seria libertado e entregue ao país de origem. Esta informação, citada pelo ZAP, foi depois corrigida pelo canal, que a atribuiu a informação a “uma conta de Facebook falsa atribuída falsamente ao porta-voz do ENL” e acrescentou que o próprio exército do marechal Khalida Haftar tinha emitido um comunicado a desmentir que o piloto trabalhasse para a União Europeia.
O piloto, cuja nacionalidade não é ainda confirmada, continua detido.
“Mercenário português”
Segundo a agência France Presse, na página oficial do Exército Nacional Líbio (ENL), de Haftar, o piloto foi apresentado como “um mercenário português“.
O ENL divulgou imagens do piloto, que parece ferido, e numa dessas fotografias pode ver-se o comandante das operações militares do ENL na região oeste, general Abdessalem al-Hassi, acrescenta a AFP. Até agora, acrescenta a agência francesa, o GAN não confirmou nem desmentiu estas informações.
Num vídeo do suposto piloto, um dos combatentes do ENL pergunta-lhe em inglês se é militar e ele responde: “Não. Sou um civil“. O piloto diz chamar-se “Jimmy Reese” e ter 29 anos. Acrescenta ter sido contratado por destruir “estradas e pontes” por uma pessoa chamada Al Hadi, cujo apelido desconhece.
A Líbia tem sido vítima do caos e da guerra civil desde que, em 2011, a comunidade internacional contribuiu militarmente para a vitória dos diferentes grupos rebeldes sobre a ditadura de Muammar Khadafi (entre 1969 e 2011).
Os combates opõem as forças do Governo de Acordo Nacional, reconhecido pela comunidade internacional, ao Exército Nacional Líbio proclamado pelo marechal Haftar, homem forte do leste líbio que ordenou, em 4 de abril, a conquista da capital, Tripoli.
Segundo as Nações Unidas, os confrontos já causaram pelo menos 432 mortos, 2.069 feridos e mais de 55 mil deslocados. Os dois lados acusam-se mutuamente de recorrer a mercenários estrangeiros e de beneficiar do apoio militar de potências estrangeiras.
ZAP // Lusa