As forças leais ao marechal Khalida Haftar anunciaram esta terça-feira ter abatido na Líbia um avião das forças leais ao Governo reconhecido pela ONU e capturado o piloto, que afirmam ser de origem portuguesa, noticia a agência turca Anadolu.
Em comunicado, citado pela agência, as forças leais a Haftar, que controla o leste da Líbia, dizem ter abatido um avião do Governo de Acordo Nacional (GAN) que teria tentado atacar posições no distrito de Hira, a sul de Tripoli. “O piloto do avião, de origem portuguesa, foi detido”, diz o mesmo comunicado citado pela agência, sem adiantar pormenores.
Contactada pela agência Lusa, fonte oficial do Ministério da Defesa diz que “não se trata de qualquer militar que esteja integrado numa operação da Força Aérea naquela zona”.
Entretanto, o Exército Nacional Líbio afirmou que a detenção foi um “erro” e que o piloto será libertado e entregue ao país de origem.
“Iremos entregar o piloto português ao seu país imediatamente depois do tratamento das suas feridas e agradecemos o trabalho dos nossos irmãos europeus na guerra contra a imigração ilegal”, disse o porta-voz Ahmed Mismari, citado pela Al Arabiya.
“Queremos saber da segurança do piloto português e tratamo-lo como um convidado e não como um prisioneiro. O que aconteceu foi um erro, resultado do estado de guerra pelo qual estamos a passar”, pode ler-se na mesma notícia, que acrescenta que o alegado piloto português será entregue à operação europeia Sophia, à qual dizem que pertence.
Segundo o site da operação Sophia, Portugal não tem neste momento qualquer avião ao serviço desta operação, mas já participou com um avião de patrulha e reconhecimento Orion, que foi, entretanto, retirado. A operação em causa visa de garantir a segurança das fronteiras marítimas europeias e conter o fluxo da imigração irregular.
A União Europeia ainda não confirmou ter perdido alguma aeronave.
Ao jornal Público, os ministérios da Defesa Nacional e dos Negócios Estrangeiros portugueses não confirmaram a nacionalidade do piloto e afirmaram estar a averiguar o caso. Também a Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas disse ao matutino não ter qualquer informação sobre o assunto.
“Mercenário português”
Segundo a agência France Presse, na página oficial do Exército Nacional Líbio (ENL), de Haftar, o piloto é apresentado como “um mercenário português“.
O ENL divulgou imagens do piloto, que parece ferido, e numa dessas fotografias pode ver-se o comandante das operações militares do ENL na região oeste, general Abdessalem al-Hassi, acrescenta a AFP. Até agora, acrescenta a agência francesa, o GAN não confirmou nem desmentiu estas informações.
Num vídeo do suposto piloto, um dos combatentes do ENL pergunta-lhe em inglês se é militar e ele responde: “Não. Sou um civil“. Num dos vídeos divulgados, o piloto diz chamar-se “Jimmy Reese” e ter 29 anos. Acrescenta ter sido contratado por destruir “estradas e pontes” por uma pessoa chamada Al Hadi, cujo apelido desconhece.
A Líbia tem sido vítima do caos e da guerra civil desde que, em 2011, a comunidade internacional contribuiu militarmente para a vitória dos diferentes grupos rebeldes sobre a ditadura de Muammar Khadafi (entre 1969 e 2011).
Os combates opõem as forças do Governo de Acordo Nacional, reconhecido pela comunidade internacional, ao Exército Nacional Líbio proclamado pelo marechal Haftar, homem forte do leste líbio que ordenou, em 4 de abril, a conquista da capital, Tripoli.
Segundo as Nações Unidas, os confrontos já causaram pelo menos 432 mortos, 2.069 feridos e mais de 55 mil deslocados. Os dois lados acusam-se mutuamente de recorrer a mercenários estrangeiros e de beneficiar do apoio militar de potências estrangeiras.
ZAP // Lusa