Coligação do novo governo alemão já não se entende (e ainda nem tomou posse)

Hannibal Hanschke / EPA

O novo chanceler da Alemanha, Friedrich Merz.

Principal política do SPD em causa, mas o apoio à Ucrânia também gera discórdia. Divisões internas nos sociais-democratas não ajudam. Alemanha pode ir outra vez para eleições?

A nova coligação alemã ainda nem tomou posse, mas já há “problemas no paraíso” que chegou a acordo há menos de uma semana para manter a extrema-direita de fora da liderança da potência europeia.

Assinado o acordo de coligação, a 9 de abril, e antes de ter assumido oficialmente o poder, o novo governo de coligação da Alemanha já está em desacordo em relação… ao que já foi concordado.

Em causa está um desacordo sobre se as políticas estabelecidas no “aperto de mão” de 144 páginas entre o bloco democrata-cristão de centro-direita (CDU/CSU) e o Partido Social-Democrata (SPD) de centro-esquerda são ou não compromissos garantidos ou apenas sujeitas a futuras restrições orçamentais.

No centro da disputa está a principal política do SPD, avança o Politico: a redução do imposto sobre o rendimento para as pessoas com rendimentos baixos e médios.

O novo chanceler, Friedrich Merz (CDU), sublinhou que qualquer política, incluindo a redução de impostos e o investimento em infraestruturas, só será aplicada se for financeiramente viável. “Não fazemos promessas que não possamos cumprir”, disse à ARD, apontando para uma cláusula do acordo que condiciona todas as medidas à disponibilidade de financiamento.

O SPD saiu de punho erguido. Saskia Esken, co-líder do partido, insistiu que a redução de impostos é um compromisso firme, dizendo ao Rheinische Post que é um “acordo claro” e vital para dar aos “trabalhadores e à economia” um impulso de confiança.

O mais grave é que as tensões estendem-se à política externa, particularmente no que diz respeito ao apoio militar à Ucrânia. Merz apoiou a entrega de mísseis de cruzeiro Taurus de longo alcance, mas o ministro da Defesa, do SPD, Boris Pistorius — que deve manter-se no cargo — opôs-se à ideia, muito abertamente: “nunca disse que era a favor disso”.

E, dentro do SPD, também há divisões que ameaçam a estabilidade. A ala juvenil do partido, Jusos, que representa cerca de 12% dos seus membros, rejeitou o acordo de coligação, especialmente pela “bomba-relógio” que diz ser o plano do acordo para a migração.

Apesar de tudo, “não haverá uma segunda volta”, garantiu o presidente do SPD, Lars Klingbeil, avisando que a não ratificação do acordo poderia desencadear novas eleições ou levar a um governo minoritário.

O futuro da coligação depende agora dos membros do SPD, que têm até 29 de abril para votar o acordo. Se for aprovado, a votação parlamentar para a nomeação de Friedrich Merz como chanceler está prevista para 6 de maio.

ZAP //

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