Gouveia e Melo sai em defesa do serviço militar obrigatório: é arma de “dissuasão” contra Putin

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Miguel A. Lopes/ Lusa

Henrique Gouveia e Melo.

Quem acha que é pouco tempo, “engana-se”. As forças portuguesas seriam “completamente destruídas” em menos de um mês em cenário de conflito da dimensão Ucrânia-Rússia e, perante a “falsa segurança de estarmos protegidos”, a melhor arma é a dissuasão, diz o chefe da Marinha.

O serviço militar obrigatório (SMO) pode ser “ferramenta importante de dissuasão” para fazer face aos perigos que a Europa enfrenta, considera o almirante Gouveia e Melo.

À conversa com a Renascença, o Chefe do Estado-Maior da Armada diz que quem é contra o SMO, com o argumento de que este dura pouco tempo, está enganado.

“A preparação de três ou quatro meses não é insuficiente porque dá estrutura, dá treino básico, dá capacidade de sobrevivência e essas coisas são importantes quando temos que ativar rapidamente a componente humana da proteção do próprio país”, explica.

“Hoje não há grandes distâncias e podemos ser rapidamente envolvidos num conflito europeu se não fizermos as estratégias de dissuasão adequadas”, avisou o chefe da Marinha.

“Muitas vezes, temos a falsa segurança de estarmos protegidos”, lembrou.

Confrontado com a eventual necessidade de preparação para um conflito com a Rússia, o general começa por dizer que “há três estratégias possíveis: a da cooperação, a da dissuasão e a da confrontação.”

“Uma vez que nós, Europa Ocidental, já não conseguimos fazer a estratégia da cooperação com a Federação Russa governada por Putin, só temos dois caminhos: a estratégia da confrontação total, que é indesejável por ser a mais cara em termos de recursos e ser altamente destruidora, ou a estratégia de dissuasão”.

A arma: gerar a dúvida no opositor

E no plano dissuasor, pouca gente tem treino militar no Ocidente, algo que o presidente russo Vladimir Putin tem em conta — e a seu favor — na eventualidade de se desenrolar um conflito de média-longa duração.

“Com forças muito profissionalizadas e de elevado custo, os países ocidentais acabaram por cair num processo em que muito pouca gente na sociedade tem treino militar, ou seja, pouca gente tem capacidade para, em caso de emergência, poder reagir rapidamente e mobilizar-se rapidamente para a defesa do país.”

“No caso português, somos neste momento cerca de 25 mil” disponíveis para combater, sublinha. “Ora, num combate, por exemplo, na Ucrânia, em que morrem entre 500 e mil pessoas por dia, significava, numas forças armadas como as da nossa dimensão, ficarem, em menos de um mês, completamente destruídas“, explica.

“Não havendo conhecimento militar numa determinada sociedade, porque se profissionalizou, isso cria um grande problema a essas sociedades. Daí, a necessidade que se está a sentir, cada vez mais, na Europa Ocidental de rever o modelo, que é um modelo profissionalizado, e por isso mais caro, mas é um modelo que reduz o conhecimento a um núcleo muito pequeno dessa sociedade”, recorda.

A coisa mais importante que nós podemos fazer é dissuadir um opositor de entrar em conflito connosco, porque a fase de confronto é sempre a fase mais negativa e é, normalmente, onde as coisas ocorrem de forma muito violenta”, acredita.

“Se o opositor perceber que nós temos uma grande fragilidade humana, que não conseguimos recrutar, que não conseguimos gerar forças a tempo de uma determinada ação, pode ser levado a pensar que poderá ter sucesso se avançar para a confrontação direta e isso só por si é muito perigoso.”

“Por isso, o recrutamento, o serviço militar obrigatório, não nos moldes anteriores, mas nos moldes mais modernos e inteligentes, pode servir também enquanto ferramenta importante de dissuasão relativamente aos perigos que nós agora todos enfrentamos na Europa”, conclui.

Europa quer ressuscitar serviço obrigatório

A discussão surge numa altura em que vários países europeus abrem portas à possibilidade de um regresso da obrigatoriedade do SMO.

Este mês, a Dinamarca seguiu os passos de dois países vizinhos — Noruega e Suécia — e alargou o serviço obrigatório às mulheres, numa tentativa de resolver problemas de defesa nacional e “evitar a guerra num mundo em que a ordem internacional está a ser desafiada”.

Dias mais tarde, foi a vez da Alemanha considerar o “ressuscitar” do serviço militar obrigatório, suspenso em 2011, face à ameaça russa, mas são mais os obstáculos do que as vantagens.

“As Forças Armadas alemãs estão atualmente a examinar várias opções para a utilização de formatos de serviço militar. O regresso ao sistema obrigatório, suspenso desde 2011, custaria vários milhares de milhões de euros e implicaria um novo ajustamento estrutural importante”, avisou o tenente-coronel Torben Arnold.

A mudança para um exército totalmente voluntário, há 13 anos, fez com que o número dos militares caísse. Depois das Forças Armadas alemãs terem atingido o pico com quase 500 mil soldados no final da Guerra Fria, o valor caiu para metade em 2010.

“Todas as pessoas a considerar teriam de se submeter a exames médicos e seriam necessárias infraestruturas para alojamento e formação. É necessário identificar pessoal de treino suficiente. Estes soldados não podem ser utilizados noutras tarefas. Para além disso, todos teriam de ser dotados de equipamento e vestuário”, algo que leva muito tempo, adiantou o investigador no Instituto Alemão para Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP).

“Uma guerra de grandes proporções exigirá um grande número de militares. Os preparativos para o treino são exaustivos. Ao mesmo tempo, devido à equiparação, não só os homens devem ser considerados, mas também as mulheres. No entanto, isso exigiria uma alteração da Lei Fundamental”, explica o tenente-coronel à Lusa.

Tomás Guimarães, ZAP //

4 Comments

  1. Boa tarde
    Os emigrantes saíram do País porque não estavam satisfeitos com seu País acho que não deviam Votar eles já voltam no pais onde estão não acho que tenham que decidir no nosso Governo não estão a contribuir para nosso desenvolvimento
    Cumprimentos

  2. Boa tarde,
    Fiz o SMO em 83/85, durou 2 anos 1 mês e 4 dias, e até hoje nunca achei que foi tempo perdido, pelo contrário foi tempo em que apreendi muita coisa e algo que só por quem lá passou sabe o que é a camaradagem e o respeito entre nós.
    Hoje em dia existe uma falta de respeito entre as camadas mais jovens para com os mais velhos e mesmo entre eles, só pensam neles próprios, vivem num mundo em que mais nada interessa a não ser as suas ideias, as suas convicções ou seja acham-se no direito de fazerem o que lhes dá na real gana.
    Hoje se tivesse de voltar a ingressar nas FA, fazia-o com toda a honra de quem tem de defender o própria pátria sem olhar para trás.

    “A PÁTRIA HONRAE QUE A PÁTRIA VOS CONTEMPLA”

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