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O Google está numa batalha judicial com a UE – e a sua defesa é ser o termo mais pesquisado no Bing

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Em causa está um processo relativo à multa recorde que a UE impôs ao Google por violar a lei da concorrência ao ter o seu navegador predefinido nos dispositivos Android. A empresa argumenta que mesmo sem essa vantagem, os utilizadores preferem usar o Google.

Parece um insulto digno de uma batalha de rap, mas foi um dos argumentos usados pelo Google no processo aberto por reguladores da União Europeia.

A empresa tecnológica está a ser acusada de violar as leis de mercado por promover injustamente os seus próprios motores de busca e navegadores nos telemóveis Android, ao pagar para ser a única aplicação de pesquisa já pré-instalada nos telemóveis, estando perto de ser um monopólio.

A então Comissária Europeia para a Competição, Margrethe Vestager, avançou com uma multa de 5 mil milhões de dólares, dizendo que o Google está propositadamente a tentar eliminar potenciais rivais e que apenas 1% dos utilizadores instalaram um motor de busca diferente, mas o Google está a argumentar que domina o mercado mesmo sem essa vantagem – e decidiu chamar ao barulho o motor de busca Bing, o seu rival mais próximo.

“Submetemos provas que mostram que o termo de pesquisa mais comum no Bing é de longe “Google””, afirmou o advogado da gigante tecnológica, Alfonso Lamadrid, no Tribunal Geral da União Europeia, no Luxemburgo.

Com este argumento, a empresa pretende reverter a multa histórica que foi imposta em 2018. “As pessoas usam o Google porque assim o escolhem, não porque são obrigadas. A quota de mercado do Google nas pesquisas gerais é consistente com inquéritos de consumidores que mostram que 95% dos utilizadores preferem o Google aos motores de pesquisa rivais”, justificou Lamadrid, citado pela Bloomberg.

A nível global, o site estatístico Statcounter aponta a quota de mercado do Google nos 92%, enquanto que o Bing está em segundo lugar, com apenas 2,48%. O Bing, da Microsoft, é também o motor de busca predefinido nos produtos da marca, como o Windows, e o Google argumenta que mesmo com essa vantagem, a grande maioria das pesquisas no seu rival é o simples termo “Google”.

No entanto, o argumento do Google de que ser o motor predefinido não importa contraria as próprias operações da empresa. Para além de pagar para ser o navegador predilecto nos Android, o Google paga também cerca de 15 mil milhões de dólares anuais para ser a escolha nos produtos da Apple e 400 milhões por ano à Mozilla para ser o pesquisador predefinido no Firefox, rival do Chrome.

Este processo não é o primeiro deste género, tendo a Autoridade de Concorrência e Mercados no Reino já aberto um processo contra o Google e a Apple para avaliar se a concentração da grande maioria do mercado de smartphones nestas duas gigantes tecnológicas está a prejudicar os consumidores.

Em causa está a dúvida sobre se as empresas estão a infringir nas regras da livre concorrência ao oferecerem serviços fechados para música, streaming de vídeos, televisão ou compras.

Já houve também reclamações na Rússia sobre o Google ser apresentado como o navegador predefinido. A empresa passou a oferecer aos utilizadores de Android uma escolha entre o seu motor de busca, o Yandex e o Mali.ru para motor padrão na primeira vez que usavam o Chrome.

Num único ano após esta decisão, o Yandex cresceu de 34% para 46% nas pesquisas móveis na Rússia, segundo o Statcounter.

Adriana Peixoto, ZAP //

6 Comments

  1. Cara Adriana, o termo inglês “by default” não se traduz para português como “por defeito”, mas sim como “por omissão”. Não há qualquer defeito, mas apenas a omissão de uma escolha do utilizador. Se o utilizador se omite de fazer a escola explícita do motor de pesquisa, o sistema Android utiliza a Pesquisa Google. O problema é que não é apresentada nenhuma opção de escolha ao utilizador, e o utilizador comum não vai à procura de alternativas e até assume que Google é sinónimo de Internet.

    A Microsoft já perdeu uma batalha semelhante sobre o navegador de Internet configurado por omissão no sistema operativo Windows, e foi forçada a perguntar ao utilizador na instalação (ou primeira utilização) qual o navegador desejado.

    • Nem uma (por defeito) nem outra (por omissão) são as traduções mais correctas para “by default”, apesar de que noutras línguas romanas usem “por defeito” para a tradução de “by default” (francês – “par défaut”, espanhol – “por defecto”, catalão – “per defecte” ou italiano – “per difetto”)…
      O termo mais correcto, neste caso, seria “por predefinição”, termo muito usado na informática (juntamente com o termo “por defeito”)…
      “…o utilizador comum não vai à procura de alternativas…” – mas foi exactamente isso que a Google argumentou: quando o navegador de internet da Microsoft abre por predefinição o motor de busca do Bing, a palavra mais pesquisada é “Google”, logo o utilizador comum procura a alternativa ao Bing, o Google! 🙂

      • Correto. É o valor pré-definido. Para escolher outro valor o utilizador tem de realizar uma ação.
        Pesquisem com o duckduckgo

  2. Na verdade, para um simples utilizador da internet, fica uma ideia muito poderosa de que o motor de busca da Google é o único que existe e, de tal forma é a sua predominância, que para milhões de internautas Internet e Google, são uma e a mesma coisa.
    Se bem que esta atitude da Google se encaminhe para uma situação perigosa de monopólio, com todas as consequências que daí adveem, não será menos verdade que os motores concorrentes não têem poder económico para fazer frente a este gigante mundial. Seriam de facto precisas novas regras, mas não me parece que algo se possa alterar significativamente.
    Por outro lado, seria muito necessário que a UE estudasse leis que, de alguma forma, inibissem a Google de receber dividendos de publicidade e outos, não pagando, ao que julgo saber, qualquer imposto nos países onde executa as suas milionárias vendas, o que configura uma situação de injustiça.
    Ou seja, no que toca à internet e seus derivados, o Mundo assiste a uma batalha russa, onde parecem ganhar sempre os mesmos. Pelo menos, por agora.

  3. “Parece um insulto digno de uma batalha de rap”, não percebi bem o contexto desta afirmação. É uma tentativa de diminuir a qualidade dos insultos utilizados no RAP?

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