Estudo liderado por gestor alerta para a importância de ter notas e moedas na carteira: têm vantagens psicológicas sobre os tão subtis (e perigosos) cartões de crédito e pagamentos à distância de um clique.
Cartão contactless, MBWay… é só encostar e está feito. Nada sai (fisicamente) da carteira e recebemos o que queremos, quase como por magia.
Às vezes parecemos ainda mais cegos online, com as contas do Paypal, Apple Pay, Google Pay ou com os dados do cartão prontinhos para pagar um bem ou serviço. São ferramentas úteis que facilitam a nossa vida — mas que podem encorajar gastos excessivos.
Ao tirarem-nos o peso psicológico das decisões financeiras, as transações simples assumem, em certas situações, o controlo das nossas despesas, conclui um estudo publicado em outubro na Qualitative Market Research.
A investigação, liderada pelo diretor de gestão de negócios internacionais, Jashim Khan, alerta para a resposta emocional mais forte do pagamento em dinheiro vivo — com tristeza, mas acima de tudo culpa ao barulho — que muito contrasta com o ato abstrato de encostar o cartão ou tocar num ecrã.
No fundo, custa-nos ver uma nota de 20 euros sair das nossas mãos para pagar um almoço passageiro, que esqueceremos nessa mesma tarde. Mas apesar de incómodas, estas emoções ajudam a manter-nos disciplinados financeiramente.
A investigação do professor associado de marketing na Universidade de Surrey abrangeu duas décadas e dois continentes. Em 2013, grupos de discussão na Nova Zelândia refletiram sobre os seus hábitos de pagamento, e um estudo semelhante realizado na China em 2023 corroborou as conclusões.
Os participantes que pagaram em numerário relataram sentir uma maior sensação de perda: davam mais valor ao dinheiro quando o sentiam nas mãos. Por outro lado, os métodos de pagamento digital permitiram muitas vezes um modo de despesa “sem sentido”, em que o impacto emocional imediato foi consideravelmente reduzido ou até inexistente.
Os portugueses devem conhecer bem essa sensação: são dos que mais “encostam” para pagar, ficando apenas atrás do Reino Unido (69%) e Espanha (72%), de acordo com o XIII Relatório de Tendências dos Métodos de Pagamento da Minsait Payments, uma entidade do grupo Indra.
Os cartões de débito dominaram, em 2023, as compras presenciais em Portugal, com 42,4%, e registou-se uma inclinação significativa para transferências imediatas para pagamentos online, com uma taxa de preferência de 44,7%: o pagamento em dinheiro “está a perder força” e os neobancos a ganhar tração.
A Geração Z, em particular, abraçou os pagamentos móveis, especialmente com o smartphone. Enquanto os millennials expressam uma ligação emocional mais profunda ao dinheiro, a Geração Z é menos afetada pelo ato de gastar.
“Uma observação surpreendente da nossa investigação é que a Geração Z tende a criar uma relação psicológica com as aplicações onde guardam o seu dinheiro”, diz Khan à Fast Company. “Em contrapartida, os millennials sentem uma ligação emocional mais profunda com o dinheiro. Para eles, separar-se do dinheiro é como separar-se de uma parte de si mesmos”, explica.
Também as empresas estão a avançar cada vez mais para operações sem dinheiro. A pandemia mudou o jogo, numa altura em que os receios de contágio levaram muitos retalhistas a adotar sistemas de pagamento contactless.
No mundo online, as grandes plataformas simplificaram ainda mais as despesas e tornaram as compras mais fáceis do que nunca, à distância de um clique. Mas a despesa sem ‘chatices’ tem um custo: maiores erros financeiros.
Para contrariar esta tendência, o autor propõe o controlo regular das contas bancárias e a manutenção de um diário de despesas.
E lembra: sentir desconforto pode ser positivo, ao funcionar como uma garantia de que as despesas estão alinhadas com os limites financeiros.
Se eu tiver uma nota de 50 euros no bolso e gastar a mesma num almoço, o restaurante fica com os 50 euros por inteiro. O restaurante pode gastar os mesmo 50 euros para pagar a lavandaria que lava as toalhas de mesa e guardanapos. A propriatária da lavandaria pode gastar os mesmo 50 euros para pagar ao cabeleireiro… etc etc. Os 50 euros estão sempre lá e valem os mesmos 50 euros.
Se passarmos a pagar com cartão, em cada transação desaparece uma comissão para o banco que emitiu o cartão, normalmente uns 1,5-3%. Por cada transação desaparece 1-1,5 euros. Ao fim de 50 transações o dinheiro inicial já pertence totalmente ao banco.
Por isso os bancos querem que pagamos com cartão – para ficar com todo o nosso dinheiro. Já somos quase todos endividados aos bancos (crédito habitação, carro etc) e querem ficar com o resto do nosso dinheiro.
Enquanto for possível levantar dinheiro no multibanco sem pagar comissões, prefiro pagar as contas com homebanking e o resto levanto – para pagar com numerário tudo o que for possível.
Concordo inteiramente!
Muito bem visto!
Claro que os governs europeus preferem esta situação porque, quando levantamos dinheiro e pagamos com el perdem o rasto dos nossos consumos e permitem a fiscalização à distância da maioria das vendas que são de pequenos valores. Porque acham que mantém, aparentemente apenas, a redea curta nas comissões sobre os pagamentos electrónicos?
O Orweliano 1986 já vai há muitos anos, vivemos a epóca dos governos: Big Brother is whatching us!
Porque somos nós o seu “governo” financeiro!