Esta galáxia pode mudar tudo o que sabemos sobre o Universo

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A galáxia NGC 1277 é uma galáxia relíquia do Universo

Uma equipa de cientistas fez recentemente uma descoberta que contraria os modelos cosmológicos atualmente aceites: uma galáxia sem matéria escura.

Os cientistas ainda não conhecem a origem da matéria escura, mas estimam que represente 85% de tudo o que existe no Universo. Agora, e pela primeira vez, detetaram uma galáxia sem este componente.

NGC 1277, situada a 240 milhões de anos-luz da Terra, é o primeiro aglomerado de estrelas, planetas, poeira e gás da dimensão da Via Láctea sem matéria escura e pode colocar em causa tudo o que a comunidade científica sabe sobre a evolução cósmica.

“Este resultado não se enquadra nos modelos cosmológicos atualmente aceites, que incluem matéria escura”, afirmou o líder da descoberta e investigador da Universidade de La Laguna, Sebastién Comerón, em comunicado.

É verdade que a matéria escura é invisível, uma vez que não interage com a luz como a matéria comum. No entanto, a sua presença pode ser inferida graças às suas interações gravitacionais.

A existência desta substância foi sugerida quando os astrónomos observaram galáxias maciças a rodar tão rapidamente que se separariam se não fosse a influência gravitacional de uma massa invisível que as mantém unidas.

Este facto levou os cientistas a concluir que todas as grandes galáxias são “abraçadas” por um invólucro de matéria escura, uma conclusão que se tornou um pressuposto importante no desenvolvimento da teoria da matéria escura. NGC 1277 desafia esta suposição.

Considerada uma relíquia cósmica, NGC 1277 é invulgar porque teve pouca interação com outras galáxias circundantes. Galáxias como esta são consideradas os restos de galáxias gigantes que existiram no início do Universo e, por isso, são essenciais para ajudar os astrónomos a compreender como se formaram as primeiras galáxias.

A equipa de astrónomos analisou esta galáxia relíquia NGC 1277 com a ajuda de um instrumento chamado espetrógrafo de campo integral, que lhes permitiu mapear o movimento da galáxia e determinar a sua massa, assim como forma como essa massa está distribuída.

A análise revelou que a distribuição da massa total de NGC 1277 – que deveria incluir a matéria escura – era a mesma que a distribuição da massa do seu conteúdo de matéria comum (estrelas, poeira, gás e planetas).

Isto significa que, no raio da galáxia, não pode haver um conteúdo de matéria escura superior a 5%. Contudo, e de acordo com o Live Science, os resultados são mais consistentes com uma ausência completa de matéria escura.

A descoberta apanhou os cientistas desprevenidos, dado que os modelos de evolução cósmica atualmente aceites, incluindo o modelo padrão, sugerem que NGC 1277 deveria ser composta por 10% a 70% de matéria escura.

Anna Ferré-Mateu, investigadora da Universidade de La Laguna, referiu que uma das explicações pode residir na interação gravitacional com o meio circundante no interior do aglomerado de galáxias, um evento que pode ter eliminado a matéria escura por completo.

“A matéria escura também pode ter sido expulsa do sistema quando a galáxia se formou através da fusão de fragmentos protogalácticos, dando origem à galáxia relíquia”, acrescentou.

A equipa não está totalmente satisfeita com nenhuma das explicações, pelo que irá continuar a investigar a galáxia com a ajuda do Telescópio William Herschel (WHT).

O artigo científico foi publicado na Astronomy and Astrophysics.

ZAP //

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