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G7 volta à Alemanha para lidar com os erros do passado

Pete Souza / White House

A então chanceler alemã, Angela Merkel, e o ex-presidente norte-americano Barack Obama, na Cimeira do G7 em 2015

A última Cimeira do G7 na Alemanha ocorreu após a anexação da Crimeia pela Rússia. Sete anos depois, os líderes do Grupo voltam a reunir-se, no mesmo local, para tratar das consequências de decisões que levaram à guerra na Ucrânia.

Em 2015, ano em que a Alemanha sediou pela última vez a Cimeira anual do G7, o encontro ficou marcado por uma icónica imagem de Barack Obama com Angela Merkel.

Na fotografia, Obama está de costas, sentado com os braços abertos apoiados no encosto de um banco de madeira, com os Alpes ao fundo os Alpes entre nuvens

Angela Merkel está de pé, em frente ao antigo presidente norte-americano, com um blazer vermelho, a gesticular com confiança.

Na altura, ambos estavam ainda no poder, e o mundo parecia também viver tempos mais fáceis. Não havia pandemia, inflação recorde e uma guerra em solo europeu.

A fotografia, porém, não mostra que as condições para a situação em que o mundo se encontra atualmente estavam já então criadas.

A Cimeira, que teve lugar no exclusivo hotel Castelo Elmau, no sul da Baviera, ocorreu apenas um ano após a Rússia ter anexado a Crimeia, em 2014.

A ação russa levou a Alemanha, França, Itália, Japão, Estados Unidos, Reino Unido e Canadá a expulsarem Moscovo do grupo — que desde 1997 era G8.

Alem disso, poucas respostas significativas houve à anexação da Crimeia.

Este domingo, sete anos mais tarde, os líderes das sete maiores potências industriais do mundo voltam a reunir-se no luxuoso castelo na Alemanha. Enquanto isso, militares russos arrasam cidades na Ucrânia.

Guerra é o grande tema da Cimeira

Quase todos os tópicos na ordem de trabalhos da Cimeira deste ano levam a Kiev. Enquanto no país há uma guerra em curso, os líderes do G7 discutem ansiosamente planos para a potencial adesão da Ucrânia à União Europeia e como reconstruir o país quando a guerra acabar.

O nível de destruição é enorme“, afirmou o chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, em comunicado na quarta-feira.

Segundo o líder alemão, milhares de milhões de euros já foram disponibilizados, “mas precisamos de mais euros e dólares para a reconstrução, que deve demorar anos. Isso só pode ser conseguido unindo forças”.

Ainda mais urgente será a questão de endurecer as sanções contra a Rússia e conter as potenciais consequências dessas sanções.

Em março, a UE anunciou um plano para reduzir a dependência do gás natural russo em dois terços até ao fim do ano.

Por iniciativa própria, Moscovo já cortou o fornecimento deste combustível fóssil para alguns dos países europeus, alegando motivos técnicos e políticos.

Segundo fontes do governo alemão, um dos grandes temas da Cimeira será como substituir a procura europeia por 158 milhares de milhões de metros cúbicos de gás natural e as importações russas para a Ásia a médio e longo prazo, mas também, na medida do possível, a curto prazo.

Teto no preço de energias

Apesar dessa grande mudança na política energética global estar a ganhar forma, a Rússia ainda é um importante exportador de energia para o mundo.

Essa posição garante à máquina de guerra de Moscovo acesso a muito dinheiro. Os líderes do G7 procuram formas de romper com o modelo, na esperança de criar mais pressão para acabar com aguerra.

Uma das ideias é a criação de um teto para o preço do petróleo russo. A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, sugeriu um mecanismo para restringir ou proibir seguros e financiamentos de embarques de petróleo russo acima de um determinado valor.

“Essa medida reduziria o preço do petróleo russo e diminuiria as receitas de Putin, permitindo, ao mesmo tempo, que uma maior oferta de petróleo chegasse ao mercado global”, explicou Yellen na segunda-feira.

Esse tipo de mecanismo requer adesão internacional para ter efeito — algo que os participantes do G7 vão avaliar na Cimeira.

Segurança alimentar e mudanças climáticas

Os governos querem também agir em relação aos elevados custos de energia, que está a contribuir para impulsionar a inflação em muitos países e a ameaçar o crescimento económico.

“Desde a última Cimeira do G7, o crescimento foi revisto em baixa e a inflação revista em alta”, salientaram fontes do governo alemão.

O elevado custo dos bens de consumo piorou com o bloqueio do transporte de commodities agrícolas vitais devido à guerra na Ucrânia.

A segurança alimentar global terá também um papel de relevo no encontro, principalmente em relação à questão de como trazer da Ucrânia cereais que deveriam estar a ser exportados.

O tema é de vital importância para países em desenvolvimento e emergentes, como os convidados da Cimeira do G7 deste ano: Senegal, África do Sul, Índia, Indonésia e Argentina.

Com o lema “Progresso rumo a um mundo justo“, há pressão para que os líderes abordem também tópicos como segurança alimentar e mudanças climáticas, que afetam desproporcionalmente países em desenvolvimento e que caíram em esquecimento devido à guerra na Ucrânia.

Os fotógrafos presentes na Cimeira estão ansiosos por captar a imagem que se vai tornar o símbolo desta Cimeira.

Este ano, porém, pode ser um vídeo a assumir esse destaque: o de líder com uma camisola verde, ao lado de uma bandeira azul e amarela, a apelar ao Mundo que tome medidas para colocar fim à guerra que devasta o seu país.

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