O principal objetivo da cimeira do G7, o alargamento do prazo para a retirada das tropas norte-americanas do país, não foi alcançado.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, tinha um objetivo quando convocou a reunião extraordinária do G7: convencer Joe Biden a prolongar a presença militar norte-americana para lá do dia 31 de agosto. Mas o Presidente dos Estados Unidos mostrou-se irredutível.
O prazo é para cumprir, mas tudo dependerá da cooperação dos talibãs. De acordo com o Observador, Joe Biden tem um plano de contingência caso os islamistas não cumpram o prometido.
“Estamos a caminho de terminar a 31 de agosto. Quanto mais rápido terminarmos, melhor. Cada dia de operações traz mais riscos para as nossas tropas”, disse o Presidente dos EUA, acrescentando que tudo “depende de os talibãs continuarem a cooperar e permitirem o acesso ao aeroporto para aqueles que estamos a transportar, sem afetar as nossas operações.”
O objetivo da reunião do G7 – composto por Estados Unidos, Reino Unido, Itália, França, Alemanha, Japão e Canadá, e que contou com a presença de Charles Michel e Ursula von der Leyen, em representação da União Europeia, Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, e António Guterres, secretário-geral da ONU – saiu, assim, frustrado.
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— Charles Michel (@eucopresident) August 24, 2021
Numa conferência de imprensa no final do encontro virtual, Charles Michel sublinhou que “o fim das operações militares no Afeganistão não é o fim do nosso compromisso de promover o Estado de direito, a democracia e os direitos humanos no mundo”. “Pelo contrário, temos de ser mais determinados do que nunca.”
O presidente do Conselho Europeu garantiu que a União Europeia vai fazer todos os possíveis para assegurar a proteção aos afegãos que fogem do regime talibã, mas ressalvou que “ainda é cedo para saber que tipo de relação vai existir com as novas autoridades afegãs”.
O Expresso escreve que o reconhecimento do Governo (ou não) é uma das últimas armas de negociação das quais a comunidade internacional ainda dispõe para pressionar os talibãs a respeitar, por exemplo, os direitos das mulheres no país. Acresce a disponibilidade financeira da UE.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que a União Europeia tem um fundo de mil milhões de euros para ajudar o Afeganistão, mas que o dinheiro está suspenso até que exista a garantia de que os direitos humanos vão ser respeitados.
“Temos mil milhões de euros para o Afeganistão, mas esta assistência está congelada até que tenhamos uma garantia sólida e vejamos no terreno ações credíveis por parte dos talibãs de que as condições estão a ser cumpridas”, adiantou, esta terça-feira.
“Não vamos acreditar na palavra de honra dos talibãs”
Apesar de garantir que a data de 31 de agosto é para cumprir, Biden avisou que está nas mãos dos talibãs cooperarem para que isso aconteça. O Presidente quer que os acessos ao aeroporto de Cabul sejam facilitados, mas ordenou a preparação de “planos de contingência” caso seja necessário permanecer mais uns dias.
Assumindo que a retiradas dos militares norte-americanos é uma “operação delicada”, o Presidente acrescentou que há o “sério risco de a situação desabar” ao longo dos próximos dias.
Esta terça-feira, na cimeira extraordinária do G7, as potências concordaram que os talibãs terão de cumprir certas “obrigações internacionais” para que a legitimidade do novo Governo afegão seja reconhecida. Joe Biden mostrou-se cético.
“Nenhum de nós vai acreditar na palavra de honra dos talibãs”, disse, acrescentando que serão “julgados pelas suas ações”.
Outra das preocupações do Presidente é o ISIS-K, uma ramificação do Daesh. “Cada dia a mais que estivermos no terreno, é mais um dia em que sabemos que o ISIS-K está com os olhos postos no aeroporto de Cabul para poder atacar os Estados Unidos, as forças aliadas e cidadãos inocentes”, alertou.
Reino Unido pode parar evacuações nas próximas “24 a 36 horas”
O The Guardian avança, esta quarta-feira, que as evacuações no aeroporto de Cabul por parte das forças militares britânicas podem chegar ao fim nas próximas “24 a 36 horas“.
A intenção de parar com as operações – uma informação avançada ao diário britânico por fontes ligadas ao Ministério da Defesa sob anonimato – surge depois de Joe Biden ter decidido que não vai prolongar a presença militar norte-americana no Afeganistão.
Atualmente, encontram-se cerca de mil soldados e diplomatas britânicos a ajudar com as operações no terreno. Mas a confirmar-se este cenário, a possibilidade de não serem retiradas todas as pessoas que querem abandonar o país torna-se cada vez mais real.
O Governo britânico já deixou claro que será impossível continuar no aeroporto de Cabul sem a presença militar dos Estados Unidos.
Em conferência de imprensa no final do encontro do G7, Boris Johnson disse que, até esta terça-feira, o Reino Unido já retirou 9.000 pessoas de Cabul, em 57 voos.
O primeiro-ministro britânico mostrou-se confiante de que será possível “retirar ainda milhares de pessoas” do Afeganistão, mas acrescentou que “a situação no aeroporto não está a melhorar”.
Boris salientou que a condição “número um” é que o regime talibã garanta uma “passagem segura para quem quer sair”. Durante a reunião do G7, os talibãs disseram exatamente o contrário: a saída de mais cidadãos vai ser impedida.
“Alguns deles dirão que não aceitam, mas espero que vejam que não tem sentido porque o G7 tem uma influência muito considerável, seja ela económica, diplomática ou política”, concluiu Boris Johnson.