/

Da saúde à educação, o Furhat é o canivete-suíço dos robôs (e pode ser usado em Portugal)

"Furhat", o robô da Furhat Robotics.

“Furhat”, o robô da Furhat Robotics.

O robô da Furhat Robotics esteve na Web Summit e já pode ser implementado em Portugal — só faltam clientes. O Furhat pode ajudar da saúde à educação e do turismo ao recrutamento.

Quando Mark Zuckerberg anunciou a mudança de nome do Facebook para Meta, disse que queria “ajudar a trazer o metaverso à vida” — um mundo que usa a Internet, a realidade virtual e a realidade aumentada para replicar a realidade e onde as pessoas poderão interagir.

Enquanto algumas pessoas receberam o anúncio com entusiasmo, outras mostraram-se mais céticas em relação ao que isto poderia significar para o mundo como hoje o conhecemos.

A tecnologia, seja através da Inteligência Artificial ou da robótica, tem cada vez mais um papel social. A noção de robôs sociais está ligada à ficção científica há décadas. Na cultura pop, em alguns casos, os robôs tornam-se nossos amigos, noutros tornam-se os nossos piores inimigos. Se por um lado temos o amigável WALL-E da Disney, por outro temos o cenário retratado em Westworld. Nesta série, eventualmente os robôs submissos insurgem-se contra os humanos.

Agora, estes robôs são uma realidade, ainda que num estado muito prematuro. E chegar ao ponto em que temos robôs semelhantes aos da ficção científica ainda é uma longa caminhada, sugere Susanna Dillenbeck, da Furhat Robotics.

À conversa com o ZAP na Web Summit, em Lisboa, a gestora de parcerias comerciais da empresa diz que se, de facto, conseguirmos atingir o patamar visto na ficção científica, “vai demorar muitos, muitos anos”. Quantos? “Potencialmente entre 20 a 50 anos”.

O Furhat, um dos robôs da empresa homónima, está a dar pequenos passos para encurtar este fosso. O Furhat reconhece emoções, distingue pessoas pela cara e pela voz, sabe se estamos a falar com ele e é fluente em 40 línguas. Consegue mudar de rosto, para uma diferente raça e etnia, e trocar de voz, mudando de uma voz masculina para uma voz feminina num estalar de dedos.

“Acho que nos próximos cinco a dez anos, veremos mais robôs a chegar ao mercado e mais exploração em diferentes tipos de áreas. Tudo, desde recrutamento e saúde até educação e turismo”, disse Susanna Dillenbeck, à medida que o seu colega Chris Wood ia pondo tudo a postos para falar com o Furhat.

“Tivemos alguns clientes a explorá-lo como conselheiro e guru de mindfulness no trabalho“, acrescentou. “O robô também já foi usado para treinar terapeutas e psiquiatras. Pode simular um paciente deprimido ou muito stressado. Portanto, este é outro tipo de maneira de usar um robô, onde ele é usado para treinar as pessoas para as suas profissões”.

As palavras não conseguem descrever claramente aquilo que é interagir com o Furhat. Não só o robô tem um excelente sentido de humor, como também consegue transmitir emoções através da sua “cara”.

Chris acredita que, dentro de dois ou três anos, as empresas vão adotar estes robôs como assistentes. A empresa existe há cinco anos e já vendeu cerca de uma centena de robôs, com cada um a poder custar desde cerca de 10 mil euros até quase 20 mil euros. A Furhat Robotics já trabalha com empresas como a Disney, Honda, Intel ou Bandai, além de colaborar com várias universidades.

Além disso, Susanna garante que estes robôs já poderiam ser implementados hoje em Portugal, embora a empresa ainda esteja à espera do seu primeiro cliente português.

Há uma questão que preocupa muitas pessoas e que até a própria representante da Furhat Robotics não consegue ficar indiferente: as pessoas devem ter medo de perder os seus empregos?

“Tenho muito respeito pelas pessoas que estão com medo, mas talvez as tarefas específicas que fazem agora não existam no futuro. Eu própria não tenho a certeza que a minha tarefa específica existirá no futuro”, começou por dizer.

“Mas também acho que não seria sensato simplesmente parar com a tecnologia e a inovação por esse motivo, porque poderíamos ter dito o mesmo com as carroças, que deveríamos ter simplesmente parado de desenvolver carros, porque as carroças eram muito melhores”.

E prosseguiu com o paralelismo: “Isto significou que os condutores de carroças acabaram por ir desaparecendo, mas a profissão de taxista foi inventada. Acho que veremos o mesmo aqui. Sim, alguns trabalhos serão realizados por robôs, mas depois precisamos de operadores e engenheiros de robôs”.

Há dois anos, o ZAP também falou com David Hanson, fundador da Hanson Robotics e criador da robô humanoide Sophia. O inventor partilhou a visão de Susanna Dillenbeck, sugerindo que não podemos simplesmente interromper a inovação.

“Não podemos ser reservados na forma como desenvolvemos os robôs humanoides” — nomeadamente no que toca à questão da ética —, mas também “não podemos ignorar as preocupações” daqueles que as têm, explicou.

Daniel Costa, ZAP //

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.