
Juan Carlos Monedero, um dos fundadores do Podemos, juntamente com Pablo Iglésias
O fundador e “número três” na hierarquia do Podemos, Juan Carlos Monedero, negou hoje ter financiado ilegalmente o seu partido através dos cerca de 425 mil euros que recebeu de governos sul-americanos por trabalhos de consultoria política.
O dirigente do partido de Pablo Iglesias compareceu esta sexta-feira numa conferência de imprensa, depois de quase um mês de ausência frente aos jornalistas, durante o qual começou a ser investigado pela Agência Tributária espanhola por ter recebido 425.150 euros em finais de 2013 – numa transferência para a sua conta pessoal – para pagar um trabalho de consultoria política realizado para um organismo supranacional formado por países como a Venezuela, Cuba, Nicarágua, Honduras, Equador e Bolívia.
Um dia depois Monedero transferiu esse dinheiro para a conta de uma empresa que tinha criado pouco antes, a Caja de Resistencia Motiva 2.
A empresa pagou menos impostos (menos cerca de 130 mil euros) do que o próprio pagaria se declarasse como rendimento individual.
Os restantes partidos – especialmente o PP (no poder) e o PSOE (oposição) – levantaram questões sobre se o Podemos não estaria a ser financiado por governo de outros países – algo que é ilegal pela lei espanhola. Também exigiram que Monedero mostrasse os trabalhos feitos para esses governos e a respetiva fatura.
No entanto, hoje Monedero reiterou que não pode mostrar os documentos relativos aos trabalhos executados para o Banco da Alianza Bolivariana de los Pueblos de Nuestra América (ALBA), porque os estatutos desse organismo o proíbem por motivos de confidencialidade.
“Pedi autorização para poder mostrar a fatura, porque me tinha comprometido a fazê-lo. Mas os estatutos do Banco do ALBA exigem confidencialidade quanto aos seus trabalhos. Assinei uma cláusula de confidencialidade”, afirmou.
Monedero negou, sim, que tenha financiado irregularmente o Podemos, ainda antes de o partido ter sido oficialmente constituído, em janeiro de 2014).
“Não houve nem um euro de financiamento ao Podemos pela Caja de Resistencia”, a empresa de Monedero, realçou o fundador do partido, acrescentando que os 425 mil euros pagaram a Tuerka, uma tertúlia política dirigida por Pablo Iglesias.
O Podemos, que sempre negou que Monedero estivesse em falta ou tivesse cometido qualquer irregularidade, assumiu depois o erro, ao revelar que o seu “número 3” tinha entregado às Finanças uma “declaração complementar” no valor de 200 mil euros. No entanto, reafirma que a atuação de Monedero foi “legal e ética”, rejeitando a sua demissão.
Ao entregar essa autoliquidação da dívida, o fundador do Podemos evitou ser penalizado pelas Finanças – uma vez que o fez antes de receber o requerimento da Agência Tributária – mas não parou uma inspeção aberta pelo Fisco.
Monedero atacou hoje, mais uma vez, o titular da pasta das Finanças, Cristóbal Montoro, acusando-o de usar informação dos contribuintes para fazer política.
O dirigente de Podemos falou em “caça às bruxas“.
“Parece-me muito preocupante que Montoro, que também é o meu ministro, utilize estes comportamentos para tentar amedrontar-me”.
/Lusa