Frenesim bélico de Kim Jong-un reacende receios de guerra nuclear

ZAP // 3D Molier International / KCNA

Kim Jong-un em frente a modelo de plataforma lançadora de míssil ICBM Hwasong-15  (montagem)

A Coreia do Norte abriu 2023 com ameaças à Coreia do Sul — e a anunciar planos de desenvolver mísseis balísticos mais potentes e de aumentar seu arsenal atómico.

O regime de Kim Jong-un começou o ano de 2023 com uma série de lançamentos de mísseis e a peometer aumentar a produção de armas nucleares e aperfeiçoar seus mísseis balísticos intercontinentais.

Em declarações divulgadas pela agência de notícias estatal norte-coreana KCNA, Kim qualificou a Coreia do Sul como “inimigo indisputável” do seu país e acusou a nação vizinha de obstinação pelo seu “avolumar de armas insolente e perigoso”.

A Coreia do Sul vive à sombra da perspetiva de uma agressão do seu vizinho do norte desde a década de 1950.

Analistas avaliam, no entanto, que as atuais ameaças e provocações vindas de Pyongyang devem ser encaradas com mais seriedade.

Segundo o ex-parlamentar sul-coreano Kim Sang-woo, agora membro do conselho da Fundação pela Paz Kim Dae-jung, a situação de segurança na península coreana está a deteriorar-se novamente.

“Acho que há  bom motivo para alarme, pois o regime norte-coreano olha para o atual governo da Coreia do Sul e vê qu não é tão favorável à Coreia do Norte como o governo anterior”, disse Kim à DW.

“Acredito que continuaremos a ver uma Coreia do Norte mais combativa, pois deixaram claro que olham para a Coreia do Sul como um Estado inimigo”, acrescentou.

O governo do presidente conservador sul-coreano, Yoon Suk-yeol, que assumiu o poder em maio de 2022, prometeu adotar uma postura mais dura em relação à Coreia do Norte em comparação com o antecessor Moon Jae-in, que adotava uma política relativamente branda nas relações com Pyongyang.

Yoon respondeu rapidamente às recentes provocações, com o Estado-Maior Conjunto a anunciar na segunda-feira passada a criação de uma nova comissão para desenvolver respostas aos mísseis e ameaças nucleares de Pyongyang.

O presidente sul-coreano também anunciou que Seul está a discutir a possibilidade de organizar exercícios nucleares conjuntos com os EUA.

Kim quer poder militar “esmagador”

Numa reunião do Partido dos Trabalhadores da Coreia no fim de dezembro, cujas declarações foram divulgadas pela primeira vez em a 1 de janeiro, Kim sublinhou a necessidade de desenvolver e implantar um “poder militar esmagador”, alegando a necessidade de proteger a soberania de seu país.

Segundo a KCNA, Kim disse ainda que os EUA e a Coreia do Sul estavam a tentar “isolar e sufocar” Pyongyang.

A solução, terá afirmado Kim , é um novo ICBM “cuja principal missão é realizar um rápido contra-ataque nuclear“, juntamente com o desenvolvimento de novas  armas nucleares táticas apontadas à Coreia do Sul.

Em dezembro, a Coreia do Norte anunciou planos de colocar em órbita o seu primeiro satélite espião até abril.

Há também receios de que os trabalhos no desenvolvimento do primeiro submarino norte-coreano capaz de disparar mísseis de longo alcance esteja próximo de ser concluído.

Análises de imagens de satélite da Base de Lançamentos de Sohae, na Coreia do Norte, indicam que seguem os trabalhos no desenvolvimento de veículos de lançamento maiores e mais potentes para satélites e mísseis de longo alcance, incluindo sistemas de propulsão de combustível sólido.

“Comparados com as armas de propelente líquido, os mísseis de combustível sólido são mais móveis, mais rápidos de lançar e mais fáceis de esconder e usar durante um conflito”, diz Leif-Eric Easley, professor de estudos internacionais na Universidade Ewha Womans, em Seul.

“A afirmação de Pyongyang de que está a testar um motor de combustível sólido para mísseis balísticos de longo alcance vai ao encontro da sua doutrina mais agressiva e recentemente declarada de usar armas nucleares caso a liderança de Kim ou recursos estratégicos estejam sob ameaça”, disse Easley à DW.

“Uma vez implantada, a tecnologia tornaria as forças nucleares da Coreia do Norte mais versáteis, resistentes e perigosas“.

E embora os lançamentos de mísseis na segunda metade de 2022 não tenham sido “tecnicamente impressionantes”, o fato de terem sido feitos em grande volume, em momentos imprevisíveis e de vários locais “mostra que a Coreia do Norte poderia lançar diferentes tipos de ataques, a qualquer hora e de várias direções”, conclui Easley.

Ameaça nuclear da Coreia do Norte

Kim Sang-woo, da Fundação pela Paz Kim Dae-jung, considera que o anúncio do regime norte-coreano de que se reserva o direito de realizar um ataque nuclear preventivo caso perceba uma ameaça representa uma mudança preocupante na filosofia de segurança.

No passado, a Coreia do Norte descrevia as armas nucleares como um instrumento de dissuasão.

“Não vejo que haja corrida armamentista na península, já que a Coreia do Norte está constantemente a desenvolver as suas capacidades nucleares, mesmo quand dizem que não. Mas há claramente motivos de preocupação com a atual situação de segurança”, disse Kim.

“E há a possibilidade aterrorizadora de que um conflito possa estourar se, por exemplo, um pequeno incidente na fronteira tiver uma rápida escalada”, acrescentou. “Como não há diálogo entre os dois lados, algo muito pequeno pode rapidamente transformar-se numa grande crise.”

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