Fraude de tempo no trabalho: lavam a roupa, vêem Netflix (e admitem publicamente)

2

Também fazem compras. Funcionários revelam as coisas pessoais que fazem durante o horário de trabalho. Não são apenas os mais novos.

Aproveitam o horário de trabalho para fazer (muitas) tarefas pessoais, que nada têm a ver com o trabalho – e já nem escondem que o fazem.

A denominada fraude de tempo está a ser anunciada publicamente por jovens trabalhadores, integrados na denominada Geração Z; ou seja, nascidos entre 1997 e 2012.

A tendência surge – de novo – no TikTok: estão a surgir vídeos onde os jovens trabalhadores contam que durante o horário de trabalho vêem Netflix, lavam a roupa, fazem compras, bebem cocktails com álcool, ou até só trabalham um dia por semana na prática.

Há vídeos com este tipo de conteúdos que já foram visualizados até 400.000 vezes.

A fraude do tempo é associada aos mais jovens (até porque os próprios admitem publicamente), mas também há trabalhadores mais velhos a fazer o mesmo, revela um estudo do Consumerfieldwork citado no jornal Handelsblatt.

A especialista em assuntos laborais, Sascha Stowasser, avisa que esta rotina não é uma brincadeira: “Tem enormes consequências económicas. O absentismo é muito custoso para as empresas”.

Consequências

Michael Fuhlrott, especialista em direito trabalhista, avisa que há consequências para esses funcionários: “Qualquer pessoa que intencionalmente finge estar a trabalhar enquanto, na verdade, faz outra coisa está a cometer uma fraude”. O factor-chave é a violação do dever: “E isso existe mesmo quando há apenas um intervalo curto não declarado.”

“Se alguém trabalhar apenas 20 horas por semana em vez das 40 acordadas, isso é uma violação do dever”, acrescenta Michael Fuhlrott.

Essa violação do dever, quem engana o patrão intencionalmente, é demitido imediatamente, na pior das hipóteses.

E já houve um exemplo real: na Alemanha, uma empresa de transportes despediu um fiscal que passava o horário de trabalho com a namorada, nos cafés ou no cabeleireiro. O caso foi a tribunal, a empresa venceu. E o fiscal, além de ser despedido, ainda teve de pagar mais 21 mil euros pelo trabalho de um investigador particular neste processo.

É uma consequência extrema porque, no geral, é preciso olhar para a intensidade da fraude e para o tempo de serviço do trabalhador.

Esta questão agravou-se com o teletrabalho mas esta fraude de tempo já existe há décadas. Noutros tempos, por exemplo, passavam horas a falar ao telefone – com chamadas pessoais.

Falta liderança

Mas, seja no passado ou no presente, a maioria dos funcionários não o faz por vingança ou por ressentimento: se por um lado é falta de noção por parte do trabalhador, também é uma questão de objectivos mal definidos e de falta de liderança por parte do patrão (sobretudo quando a fraude do tempo se prolonga).

E como é que o patrão se apercebe? Há algum colega de trabalho que faz queixa, responde o especialista jurídico Fuhlrott.

Depois, há a pergunta: com a tecnologia, com a Inteligência Artificial, um trabalhador só precisa de 30 horas e não de 40 horas para cumprir as suas tarefas – deve continuar a trabalhar?

“Os contratos de trabalho são geralmente contratos de serviço. A maioria dos trabalhadores é paga à hora, e não com base no sucesso ou na produtividade”, lembra Michael Fuhlrott.

Mas há outra perspectiva: um sistema laboral que foca no tempo em vez de resultados está ultrapassado. “Se alguém conclui suas tarefas com eficiência, por que não poderia sair uma hora mais cedo?”, questiona outro especialista em questões laborais, Stowasser.

ZAP //

2 Comments

Responder a Miguel Horta Cancelar resposta

Your email address will not be published.