Sabe a frango, e é frango — feito num laboratório em Tóquio

Nie et al / Trends in Biotechnology

Uma máquina que não se parece nada com uma galinha pode ser o futuro das aves de capoeira. Um laboratório em Tóquio acabou de criar um pedaço de frango que não só se parece com o verdadeiro, como também tem o mesmo sabor.

A carne cultivada já é uma tecnologia comprovada, mas o maior problema não é cultivar células – é mantê-las vivas: a maioria das carnes cultivadas em laboratório “morre na incubadora”.

Isso deve-se ao facto de lhes faltar o que a natureza fornece sem esforço: uma forma de fazer circular os nutrientes até aos tecidos. As células sufocam, o tecido torna-se necrótico e o que poderia ter sido um bife acaba por se assemelhar a uma pasta.

Mas agora, conta o ZME Science, uma equipa de investigadores no Japão podeá ter decifrado o segredo da natureza.

Utilizando um bioreactor que imita um sistema circulatório vivo, os cientistas cultivaram músculo de frango inteiro, com textura, alinhamento e função contrátil.

O seu método, apresentado esta semana num artigo publicado na revista Trends in Biotechnology, representa um grande passo em frente no sentido de tornar a carne de cultura estruturada escalável, comestível – e até deliciosa.

Não se trata de carne cultivada em laboratório

A carne cultivada em laboratório, também conhecida como carne de cultura ou carne cultivada, é produzida através do crescimento de células animais num ambiente controlado — sem necessidade de abate.

Desde que o primeiro hambúrguer cultivado em laboratório foi apresentado, em 2013, o sector tem crescido rapidamente, com dezenas de startups a tentar criar carne com o aspeto, o sabor e a cozedura da carne real.

No entanto, apesar dos progressos, a criação de cortes espessos e estruturados — como peito de frango ou bife — continua a ser um desafio obstinado.

Nie et al / Trends in Biotechnology

Não é uma galinha. É uma máquina que produz carne de frango

A maioria das carnes cultivadas assemelha-se a produtos moídos, porque os cientistas têm-se esforçado para replicar uma caraterística fundamental do tecido vivo: os vasos sanguíneos.

Em vez de cultivar aglomerados isolados de células musculares, a equipa de investigadores japoneses conseguiu cultivar mais de 10 gramas de músculo de galinha estruturado e cortado inteiro.

A chave é algo a que chamam Biorreactor de Fibra Oca (HFB), uma máquina que funciona como um sistema circulatório, bombeando oxigénio e nutrientes através de uma estrutura de mais de mil fibras dispostas com precisão.

“O nosso estudo apresenta uma estratégia escalável, de cima para baixo, para produzir carne de cultura de corte inteiro utilizando um bioreactor de fibra oca perfurável”, afirma Shoji Takeuchi, investigador da Universidade de Tóquio e autor principal do estudo.

“Este sistema permite a distribuição celular, o alinhamento, a contratilidade e melhores propriedades relacionadas com os alimentos”, acrescenta Takeuchi.

“O nosso método oferece uma alternativa prática aos métodos de base vascular e pode ter impacto não só na produção alimentar, mas também na medicina regenerativa, nos testes de medicamentos e na robótica bio-híbrida“, realça o investigador.

“É emocionante descobrir que estas fibras minúsculas também podem ajudar efetivamente a criar tecidos artificiais e, possivelmente, órgãos inteiros no futuro“, conclui Shoji Takeuchi.

Esperemos então pelo dia em que um bom frango de churrasco à laboratório nos chegue à mesa; o cientista holandês Mike Post dizia em 2015 que o bife de laboratório que inventou iria chegar aos talhos em 5 anos… e já passaram 10.

ZAP //

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