França sobre-endividada tem novo plano de choque para a economia

TERESA SUAREZ/EPA

O primeiro-ministro francês, François Bayrou.

“Aumentar os impostos” para reequilibrar as finanças públicas é “insustentável”, diz o primeiro-ministro francês. Objetivo é produzir mais, para financiar os serviços públicos do país.

O primeiro-ministro francês, François Bayrou, alertou esta terça-feira para a situação da economia sobre-endividada do país, sem produção suficiente e com um nível de emprego inferior ao dos seus concorrentes, e anunciou um plano de choque imediato.

“Há datas cruciais na agenda política do governo, há horas decisivas, e esta é uma delas”, afirmou François Bayrou numa conferência de imprensa para assinalar o lançamento do Comité de Alerta para o Orçamento de 2026, em que referiu que quer “falar a linguagem da verdade” para os franceses.

Numa conferência com os membros do seu Governo, Bayrou apontou que a situação do país é agravada pelas crises internacionais, que obrigam a um aumento do esforço de Defesa, e pela guerra comercial lançada pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Perante a guerra na Ucrânia e a reviravolta estratégica dos Estados Unidos, “a União Europeia tem o dever imperativo de construir uma defesa autónoma”, graças a “um imenso esforço partilhado, necessário por parte dos outros países europeus”, no qual “o esforço francês” será reforçado, declarou o chefe do governo.

Por essa razão, o chefe de Governo francês estimou que “será sem dúvida necessário um esforço de cerca de três mil milhões de euros suplementares” no orçamento da Defesa de 2026 para garantir a “independência em termos de segurança e defesa” da França e da União Europeia.

Objetivo: produzir mais

Numa altura em que pretende economizar 40 mil milhões de euros até 2026, entre aumento de receitas e redução de despesas, para reduzir o défice público de 5,4% do Produto Interno Bruto (PIB) para 4,6%, o objetivo do chefe de Governo francês é ainda produzir mais para financiar os serviços públicos franceses.

“Se a nossa produção ‘per capita’ estivesse ao nível dos nossos vizinhos europeus, não teríamos um défice orçamental e os nossos concidadãos que ganham cerca de 2.000 euros por mês aproximar-se-iam dos 2.500 euros”, afirmou Bayrou, defendendo que a França é “o país do mundo que gasta mais dinheiro público”.

Apesar disso, o país “está longe de estar no topo da classificação da OCDE em termos de nível de vida, de taxa de desemprego ou de desigualdade”, acrescentou o primeiro-ministro, considerando que “é possível um reequilíbrio das finanças públicas”.

“A inevitabilidade de uma dívida excessiva é inaceitável porque não seremos capazes de suportar sustentavelmente o fardo”, que poderá “atingir 100 mil milhões de euros em 2029”, contra 67 mil milhões em 2025, segundo Bayrou, que insiste que a espiral da dívida é “um círculo vicioso, uma armadilha perigosa, potencialmente irreversível”.

François Bayrou, que considera que “aumentar os impostos” para reequilibrar as finanças públicas é “insustentável”, convocou ainda uma reunião para 14 de julho para propor “grandes orientações” e as “grandes escolhas” decorrentes do diagnóstico.

“O nosso objetivo é propô-las até 14 de julho, para que possamos ter uma visão mais clara das possibilidades e oportunidades que temos pela frente”, afirmou.

Bayrou, eleito em dezembro, já tinha avisado no início do mandato que “ninguém conhece a dificuldade da situação melhor do que eu”, disse ao receber a pasta de Barnier: é um “Himalaias de dificuldade”.

Risco de moção de censura

Com as sondagens e acusações de inação após quatro meses de mandato, o centrista François Bayrou pretende agora iniciar um método de “corresponsabilidade” com os franceses.

O esforço monetário de 40 milhões de euros suplementares para o Orçamento de 2026 corre o risco de uma moção de censura por parte dos partidos de extrema-direita União Nacional (RN) e da esquerda radical França Insubmissa (LFI).

“Se o plano é pedir aos franceses que apertem o cinto sem que o Estado faça economias em termos de imigração, de custo de vida do Estado e das coletividades locais, faremos tudo para o censurar”, afirmou antes da conferência o vice-presidente do RN, Sébastien Chenu.

Por outro lado, a esquerda está preocupada com o “impacto recessivo” das novas economias sobre um crescimento já enfraquecido pelas incertezas ligadas à política protecionista dos Estados Unidos.

ZAP // Lusa

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