Fóssil com 380 milhões de anos é o coração mais antigo alguma vez encontrado

Yasmine Phillips / Curtin University

A descoberta do fóssil de coração de placodermo, uma classe pré-histórica de peixes, dá pistas sobre a evolução dos animais vertebrados.

Nas cadeias de calcário da região de Kimberley, na Austrália Ocidental, perto da cidade de Fitzroy Crossing, encontra-se um dos complexos de recifes antigos mais bem preservados do mundo.

Aqui estão os restos de uma miríade de animais marinhos pré-históricos, incluindo placodermos, uma classe pré-histórica de peixes que representa alguns dos nossos primeiros ancestrais com mandíbulas.

Os placodermos eram os governantes dos antigos mares, rios e lagos. Foram os peixes mais abundantes e diversificados do Período Devoniano (há entre 419–359 milhões de anos) – mas morreram no final num evento de extinção em massa.

Estudar os placodermos é importante pois dão informações sobre as origens do plano corporal dos vertebrados com mandíbula. Por exemplo, os placodermos revelaram quando os primeiros maxilares, dentes, ossos do crânio emparelhados e membros emparelhados evoluíram.

Agora, num estudo publicado na Science, foi detalhada a descoberta do fóssil mais antigo de um coração tridimensional de um vertebrado — neste caso, um vertebrado com mandíbula. Este coração de placodermo tem cerca de 380 milhões de anos e é 250 milhões de anos mais velho que o coração de vertebrado mais antigo anterior.

Os fósseis de peixes de perto de Fitzroy Crossing foram relatados pela primeira vez  na década de 1940, mas não foi até 2000 que os primeiros pedaços de músculo fossilizado foram identificados em placodermos.

Com a invenção de um método de raios-X chamado “microtomografia síncrotron” – usado pela primeira vez nos fósseis de Gogo em 2010 – mais músculos foram revelados dos placodermos de Gogo, incluindo músculos do pescoço e abdominais.

O novo estudo usou essa mesma tecnologia para mostrar, pela primeira vez, a presença de um fígado, estômago e intestinos num peixe do Devoniano. Alguns dos espécimes ainda mostraram restos de sua última refeição: um crustáceo.

A descoberta mais importante foi o coração — encontrado com uma técnica de imagens de neutrões. A vida deve ter sido stressante nos mares do Devoniano, porque os placodermos tinham o coração na boca!

Nesta fase da evolução dos vertebrados, o pescoço era tão curto que o coração estava localizado na parte posterior da garganta e sob as brânquias. Mas isso não é tudo. Esta localização do coração também abriria espaço para o desenvolvimento dos pulmões.

Estudos anteriores (que foram um tanto controversos) sugeriram que os pulmões estavam presentes num placodermo primitivo chamado Bothriolepis.

A nova análise revela que as estruturas que se acreditou serem pulmões nos Bothriolepis são na verdade um fígado com dois lobos — e agora acredita-se que os pulmões estejam ausentes dos placodermes.

A descoberta, portanto, mostra uma única origem para pulmões em peixes ósseos. O movimento do coração para uma posição avançada nos peixes sem mandíbula teria permitido espaço para os pulmões se desenvolverem em linhagens posteriores.

A ausência de pulmões em placodermes sugere que esses peixes dependiam do seu fígado para flutuar, como os tubarões modernos.

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