Fósseis recentemente descobertos na Alemanha mostram que as borboletas estão no planeta há pelo menos 200 milhões de anos – mais tempo do que se pensava.
Uma equipa de investigadores descobriu restos microscópicos destes animais no interior de uma rocha antiga na cidade de Hannover, na Alemanha.
Tratam-se de escamas do tamanho de um grão de poeira, que cobriam as suas asas, explicou o professor Bas van de Schootbrugge, da Universidade de Utrecht, na Holanda.
Os cientistas usaram ácido para dissolver estas rochas, deixando pequenos fragmentos, que incluíam essas escamas “em perfeito estado de preservação”.
Esta descoberta afasta o período até então utilizado como referência para a origem dos Lepidópteros, um dos grupos de insetos mais estudados e no qual se incluem as borboletas e as traças.
A partir desta pesquisa, publicada na revista científica Science Advances, os investigadores acreditam que vão poder aprender mais sobre a conservação destes animais a partir do estudo da sua evolução primitiva.
Vida antes das flores
Durante esta investigação, a equipa descobriu algo surpreendente. Segundo os cientistas, algumas das traças e borboletas daquele tempo pertenciam a um grupo vivo até hoje, com línguas compridas que funcionam como tubos para sugar o néctar das flores.
“Estas descobertas fazem a evolução deste grupo – que tem línguas em formato de longos tubos – recuar aproximadamente 70 milhões de anos”, disse van de Schootbrugge. “E mostram que este espécime, que supostamente se desenvolvia juntamente com as flores, é, na verdade, muito mais antigo“, acrescenta.
No período Jurássico, o mundo era dominado por plantas gimnospérmicas, tal como as coníferas, que produziam um néctar adocicado para capturar o pólen presente no ar. Os insetos primitivos podem ter-se alimentado desse néctar antes de as plantas com flores surgirem, há cerca de 130 milhões de anos.
Russell Garwood, da Universidade de Manchester, no Reino Unido – e que não tem relação com o estudo -, afirmou que sempre se presumiu que a parte da boca usada para sugar o néctar se tinha desenvolvido com as flores que esses animais polinizam.
“Esta nova descoberta sugere que essa parte da boca talvez tenha tido outro papel antes de as plantas com flores se desenvolverem”, declara.
Presença global
O estudo dá pistas de como as borboletas e traças se espalharam pelo mundo, chegando a todos os continentes, com exceção da Antártida. Por exemplo, os Lepidópteros primitivos sobreviveram à extinção em massa registada no período Triássico, que eliminou muitos outros seres vivos.
Segundo Timo van Eldijk, também da Universidade de Utrecht e principal investigador do estudo, o conhecimento obtido a partir destas novas descobertas vai ajudar a atualizar os esforços modernos de conservação.
A informação é “crucial para nos ajudar a reconstituir como as mudanças climáticas causadas pelo Homem poderão afetar os insetos e a sua evolução no futuro”, explica.
As borboletas são criaturas frágeis e, por isso, torna-se muito difícil encontrar fósseis. Para quebrar essa dificuldade, os cientistas têm usado como base amostras de ADN de exemplares modernos, que podem ser usados para criar uma árvore evolutiva.
ZAP // BBC