A fortuna incalculável de Bashar Al-Assad: milhões roubados à Síria, tráfico de drogas e armas

james_gordon_losangeles / Flickr

Bashar al-Assad, Presidente deposto da Síria

Bashar Al-Assad estaria a preparar a fuga da Síria há vários anos e mesmo antes de ter fugido para Moscovo, quando os rebeldes islâmicos tomaram o poder, já tinha enviado milhões de euros em notas para Moscovo em aviões.

O ditador sírio exilou-se na Rússia no início deste mês de Dezembro, quando os rebeldes do grupo islâmico Hayat Tahrir al-Sham (HTS) tomaram conta de Damasco, a capital e o centro de poder do país.

Mas Bashar Al-Assad já estaria a preparar a fuga e ao longo de vários anos, terá escondido bens e muito dinheiro.

O jornal britânico Financial Times (FT) noticiou que entre 2018 e 2019, o Banco Central da Síria transportou 250 milhões de dólares (mais de 237 milhões de euros) em dinheiro vivo para o aeroporto de Vnukovo, a sudoeste de Moscovo.

“As transferências invulgares de Damasco sublinham como a Rússia, um aliado crucial de Assad que lhe emprestou apoio militar para prolongar o seu regime, se tornou um dos destinos mais importantes para o dinheiro da Síria, à medida que as sanções ocidentais a expulsaram do sistema financeiro”, aponta o FT.

No exílio, Putin é o grande protector de Assad, mas há quem questione se o ditador sírio pode beber um chá descansado com o líder russo.

Assad e a família têm fortuna incalculável

Não se pode contar ao certo quanto dinheiro é que Assad e a sua família terão “roubado” ao povo sírio.

Mas o Departamento de Estado dos EUA avançou num relatório divulgado no Congresso norte-americano em 2022, que Assad e a família teriam uma fortuna avaliada entre 950 milhões a 1,5 mil milhões de euros.

O império de Assad inclui propriedades no Dubai, em Moscovo e em Londres, bem como dezenas de contas bancárias secretas, toneladas em euro e outros bens valiosos.

Uma fortuna espalhada também por outros membros da família Assad.

Contratos públicos, tráfico de drogas e armas

O relatório apresentado no Congresso dos EUA sublinhava que os Assad estavam “directa ou indirectamente envolvidos em quase todas as operações económicas de grande escala” que se realizavam na Síria.

Assad tinha “poder irrestrito para conduzir e dirigir os negócios estatais para empresas que controlava através das suas frentes de negócio”, analisam também o economista político sírio Karam Shaar e o politólogo Steven Heydemann num artigo de Agosto de 2024 publicado pelo Instituto Brookings, uma entidade independente que se dedica à investigação e à educação na área das ciências sociais.

Este controle absoluto permitia ao ditador assegurar que as suas empresas, ou as dos seus familiares, ficavam com os contratos públicos para as grandes obras na Síria.

Além disso, os Assad estarão também envolvidos no tráfico de droga, no contrabando de armas e em acções de extorsão.

Geriam os rendimentos destas actividades ilegais através de “estruturas empresariais e entidades sem fins lucrativos aparentemente legítimas”, aponta o relatório apresentado no Congresso dos EUA.

Nos últimos anos, Assad terá tentado “encurralar” aliados e familiares de modo a catapultar para si parte da riqueza destes, analisam ainda Shaar e Heydemann no artigo citado.

Os dois autores referem, nomeadamente, uma disputa com um primo bilionário, Rami Makhlouf, que foi colocado em prisão domiciliária, antes de Assad assumir o seu império.

Caça ao dinheiro pode ser difícil

Com a fuga de Assad para a Rússia e o desaparecimento de milhões dos cofres públicos estatais da Síria, “haverá uma caça aos bens do regime a nível internacional”, analisa no Wall Street Journal o ex-funcionário da Casa Branca, Andrew Tabler, cujo trabalho passado foi tentar identificar os bens da família Assad.

Mas o ditador e os seus “tiveram muito tempo antes da revolução para lavar o seu dinheiro”, nota Tabler, realçando que “sempre tiveram um plano B e agora estão bem equipados para o exílio”.

Enquanto os Assad podem viver da sua fortuna incomensurável, a maioria do povo sírio enfrenta dificuldades económicas. Organizações internacionais estimam que 69% da população viva na pobreza, o que dá cerca de 14,5 milhões de pessoas.

Organizações humanitárias sírias apelam para que a riqueza de Assad seja encontrada e devolvida ao país. Mas pode não ser assim tão fácil chegar ao dinheiro.

Susana Valente, ZAP //

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