Mistério resolvido: já sabemos por que é que a flor-cadáver cheira a morte

Richard J. Rehman

Amorphophallus titanum, a flor-cadáver

Jarro-titã fascina o mundo há séculos com o seu odor fétido. O calor é o principal responsável.

Os cientistas desvendaram finalmente o mistério de longa data por detrás do fétido odor da “flor-cadáver”, a gigante (e malcheirosa) flor que floresce apenas uma vez a cada 5 a 7 anos.

A Amorphophallus titanum, nativa das florestas tropicais de Sumatra, na Indonésia, pode atingir mais de 3 metros de altura e viver durante décadas. A obsessão com a planta começou no final do século XIX, quando muitas plantas foram descobertas e recolhidas para cultivo em todo o mundo, como resultado da colonização ocidental.

Apesar do seu tamanho impressionante, é mais conhecida por emitir um fortíssimo cheiro que faz lembrar carne em decomposição durante a sua rara floração.  Mas o mecanismo molecular responsável por este odor que ofusca a sua beleza tem escapado aos cientistas — até agora.

Uma nova investigação do Dartmouth College, publicada a 4 de novembro no PNAS Nexus, identifica os compostos primários e os processos biológicos responsáveis pelo odor caraterístico da famosa flor.

O ciclo de floração da flor do cadáver é muito breve. Dura apenas alguns dias, durante os quais a sua pétala vermelha escura e com folhos se abre, revelando um pedúnculo central alto conhecido como espádice.

A flor sofre então uma termogénese, um processo que aquece o espádice até 20 graus Fahrenheit acima da temperatura ambiente. Este calor ajuda a emitir substâncias químicas sulfurosas, que atraem polinizadores como as moscas.

O invulgar mecanismo de aquecimento é mais comum nos animais, devido às proteínas que convertem a energia armazenada em calor. Até há pouco tempo, os cientistas não percebiam como é que o processo era desencadeado na flor-cadáver.

Mas o jarro-titã (nome mais comum usado para identificar a flor-cadáver) foi estudado a fundo durante a sua rara floração durante 6 anos, entre 2016 e 2022, pela equipa de G. Eric Schaller, de acordo com o Popular Science.

Usando o sequenciamento de ARN, a equipa identificou genes específicos que ativam a termogénese, bem como enzimas essenciais para a produção de compostos de enxofre.

Os investigadores detetaram um aumento dos níveis de oxidases alternativas — enzimas que permitem a produção de calor sem armazenamento de energia. Encontraram ainda genes envolvidos na síntese e transporte de enxofre, que desempenha um papel importante no aroma da flor.

A equipa de Dartmouth, com a ajuda da Universidade do Missouri, recorreu a espetrometria de massa para analisar os aminoácidos da flor do cadáver, e encontrou níveis elevados de metionina — um aminoácido que contribui para os compostos responsáveis pelos maus cheiros. Além disso, identificaram enzimas que produzem putrescina, um composto emitido por animais em decomposição, que contribui, também ele, para o cheiro a morte que ninguém atura.

Mas atenção: o jarro-titã não leva o prémio de flor mais malcheirosa do mundo. Esse título pertence à raflésia, a maior flor do mundo, que também pode ser encontrada no sudeste asiático, nomeadamente na Indonésia, Malásia, Tailândia e Filipinas. Dizem os especialistas que também ela cheira a carne podre.

Symplocarpus foetidus também é famosa pelo seu cheiro — daí ter sido batizada, em inglês, em homenagem à doninha-fedorenta (skunk cabbage ou, em português, couve doninha).

Tomás Guimarães, ZAP //

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