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“Não funciona” e “prateleiras vazias”: fixar preços é má opção

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Paulo Cunha / Lusa

Ministro da Economia, António Costa e Silva

Perspetiva do ministro da Economia reforçada, noutro contexto, com palavras da presidente executiva da SONAE. Cadeia alimentar com “atitude muito responsável”.

A inflação preocupa os portugueses, os preços de diversos alimentos atingiram recordes ao longo do último ano, mas o Governo não deve estabelecer tetos máximos.

A opinião foi reforçada por António Costa Silva, ministro da Economia e do Mar, que em entrevista ao Diário de Notícias disse que fixar preços administrativamente não resulta, para tentar suavizar o aumento dos preços.

Sempre que se fixa preços administrativamente, as coisas não funcionam“, começou por dizer Costa Silva.

A melhor solução, defende é o próprio mercado, a autorregulação: “Penso que o mercado é o melhor instrumento que temos para fixar preços. O que estamos a tentar desenvolver – o Governo tem agido em múltiplas dimensões – é tentar a autorregulação, o que significa que as empresas também façam uma oferta de produtos que sejam sensíveis a este clima de preços e que seja uma oferta positiva”.

“Penso que a autorregulação é o fundamental porque as outras intervenções que temos visto, mesmo na Europa, podem não funcionar”, avisou.

“Dá sempre mau resultado”

A presidente executiva (CEO) da Sonae, Cláudia Azevedo, avisou que, num “mercado aberto e mundial” como o alimentar, a fixação de preços máximos “dá sempre mau resultado” e resultaria emprateleiras vazias nos supermercados.

Questionada pela agência Lusa, durante a apresentação das contas de 2022 do grupo Sonae, sobre se a eventual fixação de preços máximos para os bens essenciais poderia ser uma solução para mitigar os efeitos da inflação, a líder da Sonae avisou que “tentar fixar preços dá sempre mau resultado” num mercado como o alimentar.

“Um produtor português que tem que remunerar os seus fatores de produção – e muito bem – não vai querer vender a uma cadeia portuguesa com os preços fixos. Vai vender lá fora. E um produtor internacional também não vai vender a Portugal com margens tão baixas. Eu acho que o resultado final de uma política dessas é as prateleiras vazias. E acho que isso ninguém quer”, sustentou.

Cláudia Azevedo salientou que “o facto de os preços subirem não quer dizer que haja mais lucros, pelo contrário”.

“O facto de as pessoas estarem a vender mais caro não significa, em nenhum dos casos, mais lucros. Não vamos atacar aí pelas margens”, disse.

Relativamente às operações que têm vindo a ser desenvolvidas pela Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) junto de supermercados e hipermercados de todo o país – e que e que resultou na instauração de várias dezenas de processos-crime pela prática do crime de especulação, nomeadamente por diferenças entre os preços afixados nas prateleiras e o valor pago em caixa pelos consumidores – a CEO da Sonae considerou que “a ASAE tem de continuar a fazer o seu papel e fiscalizar”.

“Nós fazemos muito mais controlo nessa situação [de diferenças entre o valor afixado e efetivamente pago] do que a ASAE, fazemos imensas auditorias internas. Isso às vezes acontece, mas é mesmo muito raro e, quanto acontece, é até mais em benefício do cliente”, sustentou.

Segundo Cláudia Azevedo, sendo Portugal “um país que compra 50% em promoção, a ‘guerra’ competitiva é muita nas promoções”: “Estamos constantemente a remarcar os preços em loja e pode acontecer – não devia, mas pode acontecer – um erro ao trocar uma etiqueta. Mas é muito, muito raro e fazemos muito mais controlo do que a ASAE, para nós esse é um tema importantíssimo”, assegurou.

Defendendo que “a ASAE tem de continuar a fazer o seu papel e a fiscalizar”, a líder da Sonae considerou que “instrumentalizar casos isolados” é que “é um ataque ao setor, de desinformação”.

“Nunca sabemos de quem estão a falar e que números estão a usar”, disse.

“Atitude muito responsável”

A presidente executiva (CEO) da Sonae garantiu hoje que “toda a cadeia alimentar está a ter uma atitude muito responsável” face à inflação, salientando que a margem de lucro do retalho alimentar do grupo recuou em 2022 para 2,7%.

“Sinceramente, acho que toda a cadeia alimentar está a ter uma atitude muito responsável. Vejo aí tudo à procura de culpados [para a subida dos preços, mas] não é a cadeia alimentar com certeza. Se eu tivesse que procurar algum culpado, seria, talvez, o presidente da Rússia, ou a China, ou a seca”, afirmou Cláudia Azevedo durante a apresentação dos resultados de 2022 do grupo Sonae.

Reiterando que “toda a cadeia alimentar, desde os produtores até aos distribuidores, tem tido uma atitude muito responsável” face ao atual contexto inflacionista, a líder da Sonae afirmou: “Isso vê-se nos dados, vê-se nos dados produzidos pelo Estado, portanto não vejo onde é que está o mistério de que andam à procura na cadeia alimentar”.

Para Cláudia Azevedo, “é um problema sério Portugal ter 20% de inflação alimentar” e a Sonae quer “ser parte da solução”, rejeitando a “campanha de desinformação” que aponta para um eventual aproveitamento por parte do setor da distribuição, aumentando as margens.

“ZAP” // Lusa

2 Comments

  1. Tudo mentira, venham ao interior ver porque os jovens foram embora, produzir batata a 15 cêntimos, maçã 15 cêntimos e só recebem só ano, milho e centeio ninguém compra,como todos os outros produtos,falem com agricultores e não empresários ou dirigentes de cooperativas,usam marca portuguesa para venderam produtos de fora, Portugal não produz ,como é possível vender produtos português se os agricultores não produzem

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